É preciso encarar a fome

É preciso encarar a fome

Q

 

uem acompanha o noticiário no país tem se deparado com a situação de pobreza e de calamidade que a pandemia provocou em grande parte da nossa população. Os números assustam quando constatamos que quase 20 milhões de pessoas estão literalmente passando fome.

Que o Brasil sempre foi desigual é uma realidade que há muito tempo nos deparamos cotidianamente. A miséria exposta está nas ruas há muitos anos.

Lembro quando, na década de 80, o Betinho começou a fazer uma campanha humanitária para tirar essa palavra fome dos lares brasileiros. E quase 40 anos depois a grande maioria das entidades que cuidam dos mais vulneráveis está de novo gritando por socorro.

Parece um looping sem fim. Parecemos aquele ratinho de laboratório que não sai do lugar. Quando pensamos que somos a 12ª economia do mundo, com uma quantidade enorme de recursos vindo de impostos e observamos que a política não consegue fazer o seu papel de mediar os conflitos da sociedade, eu me pergunto: aonde erramos, aonde continuamos errando?

Por que não aparece uma solução viável para não termos que conviver com tanta tristeza, em meio a tanta morte e desolação? Enquanto escrevo essa coluna, 355 mil pessoas perderam a vida para o coronavírus. Cada vez mais pessoas próximas.

Eu busco uma resposta porque não posso acreditar que em uma cidade e em uma região tão ricas que poderiam dar o exemplo, que não permitiríamos  de que aqui a fome não chegasse, que aqui não seria permitido que um irmão passasse fome e que um chefe de família não tenha como alimentar os seus filhos. Ainda assim, quanto assistimos na televisão famílias desprovidas do básico, aposentados precisando ficar numa fila para comprar uma quentinha por um real, questiono qual seria o caminho a seguir?

Não está na hora de juntarmos realmente esforços para  acabar com isso na cidade? A edição da revista desta semana mostra quantas entidades e quantas pessoas estão fazendo sua parte. Ouvi de um empresário que é pouco (e olha que ele ajuda muito), mas que para ele parece que estamos enxugando gelo. É preciso buscar uma liderança que possa organizar todos esses esforços para não faltar mais o básico daqueles que não tiveram oportunidade de um emprego, de uma formação mínima que garantisse a sua sobrevivência.

Acredito que ninguém queira ser tutelado por outros, o ser humano quer condições de manter a si e a sua família com as suas capacidades.

Está na hora de, além da solidariedade, pensarmos numa equidade maior entre as pessoas. Falta de oportunidade para uma boa formação é igual a fome. Precisamos pensar na falta como uma necessidade básica para sairmos dessa chaga que nos envergonha a todo aquele que tem um mínimo de humanidade.

Compartilhar: