Era de incertezas

Era de incertezas

O dia 30 de outubro de 2018 ficará marcado como um momento triste na história da comunicação de Ribeirão Preto. Uma cidade que há tempos representa o desenvolvimento, tratada como um dos importantes polos econômicos do Estado, com alto crescimento populacional, perdeu uma das principais referências na mídia impressa.

Centenário, o Jornal A Cidade produziu sua derradeira edição na última terça-feira de outubro. A data, certamente, é muito representativa para todos nós, que trabalhamos com jornalismo e temos na comunicação mais do que um emprego, mas um ideal de vida.

É certo que as últimas notícias do meio, como o fechamento do A Cidade, são desanimadoras para quem ainda tenta resistir em um mercado completamente em transição, sem muita certeza do que vem pela frente. O mundo digital ganha espaço, mas ainda não foi encontrada uma alternativa para a monetização a ponto de suprir os gastos com uma mão de obra qualificada, equipamentos e logística para a produção de conteúdo.

Hoje, qualquer um pode publicar o que quiser, na hora em que quer, por meio dos smartphones, acessando as redes sociais. Não raro, as notícias começam a correr a partir de quem presenciou e decidiu postar o que viu na internet. Antes, era comum dizer que repórteres estavam onde os leitores não poderiam estar e, por isso, trariam depoimentos e detalhes de acontecimentos importantes a quem lesse os jornais e as revistas. Sabemos que já não é mais assim. E faz tempo.

Quem está diariamente na luta para conseguir manter um veículo de comunicação ativo sabe o quanto é sofrida a redução dos recursos, o quanto é triste ver colegas de profissão serem demitidos e o quanto é preciso renovar a esperança diariamente, sem muitos motivos para isso. Ser otimista em um cenário como esse é para os muito fortes.

Há 32 anos invisto esforços para a manutenção da Revide ativa e, atualmente, conseguimos sobreviver como a única revista semanal de Ribeirão Preto. Para nós, é uma vitória hercúlea e quem trabalha com jornalismo sabe o quanto essas três décadas são significativas. Parece fácil e glamoroso editar um veículo impresso, mas a falta de reconhecimento e de valorização ao que a mídia representa deixam as esperanças de tempos melhores mais limitadas. Nosso papel mudou e precisamos estar em constante transformação.

O Jornal A Cidade não era apenas um jornal. Era, fundamentalmente, parte da história de Ribeirão Preto, que, como tantos outros veículos de comunicação, à sua maneira, tentou renovar e sobreviver em um cenário de imprevisibilidades. Não há reconhecimento por essa luta e existe certa banalização diante do que a mídia passou a representar em tempos de tanta fake news, quando nossas principais informações e certezas são baseadas em crenças e não em informações comprovadas.

Tempos difíceis são esses, em que o jornalismo passa a ter como uma das principais atividades o “fact-checking”, ou a checagem de fatos, desmascarando o que é notícia falsa e criando seções que esclarecem o que realmente é verdadeiro, entre tantas informações compartilhadas à exaustão. As redações perderam espaço para os grupos de família no WhatsApp, porque preferimos encaminhar um texto político apócrifo em vez de questionar cada besteira inverossímil que lemos por aí. 

Defendo a dura teoria de que precisamos não apenas informar leitores ou internautas, mas formá-los, também, criando uma identificação com quem nos acessa e nos lê, além de abrandar os ânimos exaltados. É tempo de muita incerteza e melancolia, mas, também, da necessidade de uma resiliência sobre-humana, com renovação e reinvenção, buscando saídas nessa aparente terra infértil. Plantar novas sementes se faz necessário - e urgente. 

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