Força, foco e fé

Força, foco e fé

Socorro! Ouvimos essa expressão com tanta frequência que já virou um dos famosos memes da internet. Mais grave do que isso, para mim, é que acho que perdemos totalmente o sentido efetivo dessas três palavras – especialmente quando unidas. Um mantra que é repetido à exaustão, mas que, na prática, nem sempre é aplicado.

Nesses tempos tão tormentosos e incertos, como manter a força, o foco e a fé (já que o discurso é tão bonito) naquilo que nos propomos a fazer? Parece que nosso pavio encurta a cada geração. A cada dia, parecemos mais irritados, sem paciência e distraídos com as milhares de atividades que preenchem a rotina, muitas vezes acumulando ações simultâneas, que prejudicam nossa concentração.

Não raro me perguntam como mantenho o pique, a energia e a dedicação quase inabalados há 32 anos, para tocar a mesma empresa, no mesmo ramo. Desde que iniciei a Revide, nos idos de 1986, tinha no jornalismo um ideal de vida, nem tanto um negócio. Nunca achei que fosse uma fonte de renda inesgotável, mas estava certa de que poderia viver daquilo que eu realmente gostava, a comunicação. 


"Algumas pessoas acham que foco significa dizer sim para a coisa em que você irá se focar. Mas não é nada disso. Significa dizer não às centenas de outras boas ideias que existem. Você precisa selecionar cuidadosamente."
Steve Jobs


Posso afirmar que não há estímulo maior do que esse para se manter ativo e resiliente: gostar daquilo que se faz ou que se tem. Trabalhar com a comunicação impressa, há tempos, é tarefa para quem consegue suportar grandes instabilidades. A crise de mercado, a crise econômica, o advento da comunicação digital e o iminente fim do papel são só alguns dos elementos que nos fazem viver uma surpresa a cada dia, com a incerteza do futuro batendo à porta.

Entre tantas más notícias, restam duas alternativas: seguir enfrentando os problemas ou desistir. A segunda opção, para mim, nunca foi, de fato, uma possibilidade real. Com tudo aquilo que me importo na vida, sempre insisto muito antes de bater em retirada. Claro que com o projeto que faz parte da minha história não seria diferente.

Sei que, em tempos de economia instável, é cada vez mais difícil encontrarmos uma função que una o útil ao agradável — o prazer pela atividade e uma remuneração de acordo com as necessidades que cada um de nós tem. Entendo o privilégio dessa união na minha vida, mas nem por isso todos meus dias são calmos e tranquilos. Pelo contrário.

Persistência, resiliência e paciência são alguns dos “ência” fundamentais nessa empreitada de mais de três décadas — e, estou certa, na vida de qualquer brasileiro. Se ceder não é opção viável, resta apelar para todas as forças possíveis.

Apesar de tudo isso, e da visível situação complicada que vivemos no País, fico impressionada em como a falta de interesse ou de comprometimento ainda assombra tanta gente. É fato que com o excesso de distrações, está difícil destinar os “três efes” a uma mesma atividade, mas é fundamental que façamos isso se quisermos ter sucesso em determinada atividade. A vida é feita de escolhas, das menores às maiores, o tempo todo. Selecionar aquilo que tem mais importância e canalizar todos os nossos esforços requer disciplina e certa abdicação do que deixamos para trás.

Para tomar essa decisão, é preciso, fundamentalmente, responder a algumas perguntas: por que faço o que faço? Será que eu seria feliz em outro lugar? A reflexão está lançada em um período propício: os finalmentes do ano. Talvez seja um momento adequado para aplicar a força, o foco e a fé naquilo que, de fato, desejamos fazer, para, finalmente, tirar essas três palavras do papel. 

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