Nossos tempos ansiosos

Nossos tempos ansiosos

Sou ansiosa como qualquer ser humano e acredito que administro esse sentimento dentro de uma certa normalidade. Sei, no entanto, que há milhões de pessoas que sofrem com essa doença do século e com os diversos tipos de transtornos de ansiedade que afetam todas as idades.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil sofre uma epidemia. O país tem o maior número de pessoas ansiosas no mundo. Ao todo, são 1,6 milhões de brasileiros (o equivalente a quase 10% da população) que convivem com o transtorno.

Acabei me aprofundando um pouco mais no tema por duas razões: primeiro, por ter um interesse genuíno em questões que envolvem a psique humana e, segundo, por ter conhecido uma amiga, que se tornou próxima, justamente quando ela buscava vencer a ansiedade.

Talvez por essa convivência, busquei mais informação e procurei as melhores maneiras de colaborar para que ela conseguisse superar esse desafio. Aprendi, com o tempo, que essa vitória sobre o transtorno depende de diversos fatores e não é simples — embora possa parecer muito fácil controlar a respiração e manter a calma diante dos pensamentos ansiosos.

Hoje ela consegue administrar melhor a ansiedade, mas percebi que os fantasmas das primeiras crises ficam quase cristalizados, resistindo a qualquer avanço e, muitas vezes, sendo os algozes de uma evolução no comportamento.

Por vezes, ela consegue administrar a ansiedade e se portar bem diante de algumas situações difíceis, mas duvida que conseguiu superar. Fica sempre desconfiada de que o pânico pode aparecer ou que poderia estar ainda melhor, pelo tempo há que se trata — são cinco anos desde que começou a fazer sessões de terapia. 

Do lado de fora, observo e busco as melhores maneiras de colaborar, mesmo sabendo que, na maioria dos momentos, é apenas ela quem pode superar os desafios colocados pelo transtorno. 

Consegui descobrir, com essa convivência, que amigos podem fazer a diferença no tratamento, longe daquele discurso tradicional do “calma, respira”. Ajudar quem sofre com a ansiedade a enxergar o mundo de uma nova maneira e buscar outros vieses para os acontecimentos da vida podem ser boas formas de contribuir para a superação do transtorno.

É preciso entender que, para o ansioso, o tempo passa de uma forma diferente. O futuro se confunde com o presente e as possibilidades do amanhã se transformam em realidades hoje — por isso é comum que os que sofrem de ansiedade também possuam algumas fobias, tendo medos, algumas vezes irreais, daquilo que pode acontecer. 

Procurar o tratamento especializado, com medicamentos e sessões de terapia é fundamental. A ansiedade não pode ser tratada como um pequeno percalço que pode ser resolvido apenas com respirações. Elas, claro, ajudam, mas encontrar a razão da instabilidade, que muitas vezes pode ser obtida por meio de processos terapêuticos, é imprescindível para uma recuperação adequada.

Para os que não são ansiosos, mas que conhecem quem seja, vai a dica, aprendida na prática: praticar a empatia e ter paciência são dois pilares para ajudar alguém a superar qualquer embate com a ansiedade. 

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