O tamanho do problema

O tamanho do problema

Um problema que surja em nossa vida tem a exata dimensão que decidimos dar a ele. É um exercício diário: a cada dificuldade, precisamos decidir quanto de nosso tempo dedicaremos a ela, dando o devido tamanho aos dramas que nos aparecem.

Não é raro carregarmos nas tintas de algumas reclamações ou contratempos. Às vezes, podemos perder a paciência, esbravejar e até compor aquele cenário de terra arrasada, achando que nada vai bem simplesmente porque os últimos acontecimentos não foram muito agradáveis. Encontrar o lado positivo, entre tanta negatividade, não é tarefa fácil e tenho para mim que estar com os olhos abertos para o contexto pode fazer toda a diferença.

Eu mesma me pego, vez ou outra, exagerando no pessimismo. Quando vejo que a maré não está boa e que estou me deixando levar por pensamentos ruins, tento tomar algumas providências internas: faço um grande esforço para lembrar tudo o que há de positivo a minha volta, penso que problemas todos têm e que a única saída para qualquer obstáculo é o enfrentamento. Claro que, além disso, também busco algumas alternativas externas, como descansar, assistir a um filme, conversar e extravasar aquilo que está me incomodando. Todos nós sabemos que a vida não é feita apenas de momentos felizes.

No último domingo, fui à missa na Catedral de Ribeirão Preto. Cheguei em cima da hora e tive certa dificuldade para encontrar um lugar para estacionar o carro. Precisei dar uma volta no quarteirão e encontrei uma vaga na rua paralela à igreja. Quase atrasada para a celebração, abri a porta sem prestar muito a atenção no poste que estava ao lado. Um senhor, já de idade, colocou a mão para segurar. “Muita gente xinga o poste. Já bateu muita porta aqui”, ele disse. Agradeci e corri para a missa.

Religiosa desde menina, como de praxe, conversei com Deus a missa inteira. Sempre peço ajuda para os tais problemas que surgem diariamente. Com tantas dificuldades que se apresentam no país atualmente, fica difícil não recorrer a uma mãozinha dos céus quando o assunto é equilibrar as contas, prosperar nos negócios e dar andamento a projetos que encontram obstáculos em um terreno econômico infértil. Rezei, pedi, agradeci e fui embora.

Voltando para o carro, pensei em dar algum dinheiro para o senhorzinho que tão gentilmente guardaria meu carro e me ajudou com a porta. Geralmente, somos abordados com certa violência ao estacionar nas ruas. Alguns flanelinhas chegam em tom ameaçador, quase que exigindo dinheiro. Em geral, um ou dois reais podem ser suficientes — decidi dar cinco ao senhor que me esperava, próximo da vaga onde parei. Quando ele viu os cinco reais, ficou tão emocionado que parecia ter conseguido todo o dinheiro do mês. “Nossa, olha só quanto! Muito obrigado, fia”, ele me disse. 

A felicidade do senhorzinho ao receber aquele dinheiro que, para muita gente, não faria grande diferença, fez com que eu me atentasse a como nossas tristezas e alegrias são, tantas vezes, dimensionadas por nossos sentimentos. Intensificamos o sofrimento ou a satisfação a partir de nossos contextos e esquecemos o que aquilo, de fato, representa no mundo em que vivemos.

Em um país com enormes desigualdades, como o Brasil, não é de se surpreender que um guardador de carros fique feliz ao receber cinco reais. A surpresa é esse guardador passar despercebido, por tanta gente, por tantos dias.

Não sei de onde vem, nem para onde vai o senhor que segurou a porta do meu carro. Se é boa gente, se foi gentil naquele dia, por qual motivo ele estava ali. O que sei é que, naquele domingo, dei a ele cinco reais e, em troca, ele me deu uma lição: ser grato, pelo que quer que seja, pode mudar o dia de alguém. E ele mudou o meu domingo.  

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