Para onde vai o amor?

Para onde vai o amor?

Ao longo da vida, construímos muitos relacionamentos. Alguns duradouros, outros mais efêmeros, que se reduzem a cumprimentos ocasionais ou raros encontros casuais. É certo que fazemos da vida o resultado de todos os encontros e desencontros que nos acontecem, criando uma espécie de média entre tudo aquilo que vivenciamos, absorvemos e fazemos ser parte de nossa personalidade. Mas o que acontece quando uma relação aparentemente consolidada se desfaz? Para onde vai o amor que por tanto tempo esteve ali?

 Tenho a impressão de que o afeto precisa de um fator determinante para ser construído: a admiração. Particularmente, esse sentimento é muito importante em minha forma de ver as relações, porque é algo que cresce e é alimentado dia após dia. Não é contemplar o belo simplesmente pelo que ele é, ou pelo que disseram ser. É descobrir, a cada momento, uma nova nuance da pessoa, que, gradativamente, pode se transformar em alguém especial.

 Acho que, aqui, cabe um bom exercício de observação, para identificarmos as razões que nos levam a admirar alguém. Bom caráter, um olhar carinhoso diante da vida, a capacidade de praticar empatia, de ter leveza diante das adversidades, de ter fé na vida e propósitos, por exemplo, são algumas ações que eventualmente nos despertam admiração e que podem ser catalisadoras daquele sentimento que nos faz querer conhecer melhor e se aproximar de alguém.

Essa aproximação, no entanto, é só o primeiro passo. Para que uma relação dure e frutifique, é preciso que seja acompanhada com zelo, podendo render bons anos de convivência. E acho que aí pode estar a diferença entre uma vida mais prazerosa e outra sem graça, sem ter com quem compartilhar — o que é uma das grandes revoluções humanas desde que se vive em comunidade. Para o bem ou para o mal, estar junto de outras pessoas, vivenciar os dias e trocar experiências podem nos oferecer uma vivência mais intensa.  

No entanto, não são todas as relações que construímos ao longo da vida, especialmente as de amizade, que prosperam ou têm um destino de completa felicidade. Por vezes, o afeto se vai, junto da admiração. E como isso muda com o tempo. Pare para pensar em quem era seu melhor amigo há 20 anos. Hoje, ainda é a mesma pessoa? Quais eram seus grandes dramas há dez anos? Hoje eles ainda são os mesmos? Com quem você mais gostava de compartilhá-los há cinco anos? Esse prazer se mantém?

Tenho convicção de que uma verdadeira amizade precisa ser cultivada diariamente, com respeito mútuo e gestos de carinho, por menores que sejam. Às vezes, na correria do dia a dia, deixamos de lado o contato com o outro, esperando que o afeto siga no piloto automático, correndo sozinho, o tempo todo. E é para aí que vai — ou que some — o amor, quando ele desaparece. 

 O amor, o afeto e a admiração não podem ser sobrepostos por urgências cotidianas ou relegados, já que cultivar relacionamentos exige dedicação. Amizades são deixadas de lado, porque outras prioridades surgem e insistimos em colocá-las à frente. É preciso atenção e cuidado diário para manter relações e não deixar com que elas se percam pelo tempo. Porque, quando se perdem, dificilmente voltam a ser o que eram antes.

Compartilhar: