Querida Elza,

Querida Elza,

Que alegria te encontrar, depois de tantos anos. Sabe que fiquei tocada quando você me disse que se emocionou com o texto que escrevi no fim do ano passado, sobre a passagem do tempo e o envelhecimento. Você disse que, depois de ler, queria ter me escrito. Depois de nosso encontro, eu também quis muito te escrever.

Fazia tempo que não nos víamos. Te vi ali, quando saía de um consultório médico, justamente onde havia iniciado minha reflexão sobre o quanto nossas fragilidades aparecem ao longo da vida.

Posso te dizer, te encontrar foi uma grande felicidade. Anos atrás, você me ajudou muito, deve se lembrar, e tenho para mim que nada é melhor na vida do que a gratidão. Não importa o passar dos anos, os compromissos que surgem, isso sempre vai permanecer.

Somos amigas há muito tempo, é verdade, mas esse mesmo tempo nos afastou por diversas vezes. Senti tristeza por não ter participado mais de suas dores, de suas alegrias. Senti tristeza por não saber sobre seus filhos e netos. Isso tudo eu perdi. O tempo passou e nossas vidas tomaram  rumos diferentes. Eu queria ter participado mais, queria ter estado mais perto.

Naquele dia, na rua, numa esquina da cidade, nossa conversa foi breve. Você falou um pouco sobre sua vida e eu  sobre a minha. Seguimos nossos caminhos ao longo dos anos e nos distanciamos. Mas eu queria te dizer mais.
Queria te dizer que, mesmo aos 75 anos, há vida pela frente. Pode acreditar. Eu já estou certa disso. Podemos encontrar certos limites com o nosso corpo, mas há vida para viver. Há afeto para sentir. Há momentos que ainda estão por vir.

Em nosso caminho, nos fizemos amigas com 20 anos de diferença, mas com almas parecidas, que se deram bem. Acho que nossos relacionamentos são assim, encontros de almas que se identificam e trazem alegrias, compartilham emoções.

Passamos pela vida toda buscando sentido, quando na verdade o sentido da vida parece estar em pequenos gestos e boas relações, não é verdade? De momentos em momentos construímos a nossa história, traçamos a nossa trajetória.
Nosso encontro, depois de tantos anos, me deixou a certeza de que, como diz o poeta Antônio Machado, “caminhante, não há caminho, se faz caminho ao andar...” Acredito muito nisso. Acertamos o nosso passo e nosso compasso a cada momento vivido, a cada sentimento sentido.

Sempre me lembro de Cora Coralina, que conseguiu realizar seu sonho de publicar um livro de poesias justamente aos 75 anos. Quando todos dizem que já não há o que fazer, posso te dizer que existe um mundo de possibilidades. E como ela mesma escreveu: “recria tua vida, sempre”.

Obrigada pelo feliz encontro, minha querida amiga. Espero que eles não tardem a acontecer novamente. 

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