Sobre o inevitável envelhecer

Sobre o inevitável envelhecer

O médico me disse peremptoriamente: pé de banana não cria manga. Esse é o inevitável do que trazemos dos nossos pais. Por mais que queiramos fugir a esta regra, é sempre uma fuga inútil. O tempo vai, o vento vem, e o que permanece são nossas origens, que cedo ou tarde dão as caras e nos fazem lembrar que ninguém é de ferro.

Sempre pautei minha vida para ter qualidade, no que diz respeito ao corpo e ao espírito. Preservo uma alimentação minimamente adequada, uma rotina de exercícios físicos, oração, yoga, leitura e relaxamento. Ainda assim, o inevitável acontece. Afinal, é inevitável, e não é diferente a nenhum de nós, por que para mim haveria de ser?

Quando contraí dengue, que apareceu do jeito mais violento, levei um golpe. Minhas plaquetas ficaram no limite e dei de cara com o inevitável. Por mais que quisesse levantar da cama, sair, por mais que quisesse não estar doente, não havia nada que pudesse fazer. Como assim, eu que sempre me cuidei, fiquei vulnerável a um vírus? Eu, que sempre me orgulhei por não tomar remédios, por não pegar sequer uma gripe.

Sempre apanhei e levantei. Nenhum golpe, para mim, até hoje, foi o último golpe. É sempre mais um. Caio, me reergo, e estou pronta para revidar. Talvez seja essa uma das características que meus amigos mais próximos mais destaquem. Dizem que a Bel não desiste, que é persistente. Acho que sou, de fato.

Persisti e persisto também comigo mesma, a todo o tempo. Diante das adversidades, tento buscar outros caminhos e não desanimar. Tento buscar as saídas em meio a um mar de incertezas que insistem em aparecer a todo tempo. Estou acostumada a encontrar dificuldades no trabalho, em minha vida pessoal e nos 30 anos de Revide. Descobri que não me deparava com adversidades tão profundas, pessoalmente, como a percepção de que o inevitável acontece.

Envelhecer tem sido uma experiência avassaladora. Para o bem e para o mal. Claro que não é das surpresas mais agradáveis ir ao médico com mais frequência e descobrir que é preciso tomar remédio para controlar isso ou aquilo, mesmo mantendo o mesmo ânimo que tinha há 20 anos.

Envelhecer tem lá suas vantagens. Talvez com a idade, a gente aprenda o que é possível relevar, o que realmente não tem jeito, o que vale a insistência. Passamos a fazer uma triagem na vida, do que importa e do que não importa. Mudamos as preocupações e os interesses, os prazeres e os dissabores. Aprendemos, com o tempo, que “quem vem aos seus não degenera”. Descobrimos como aproveitar melhor cada momento.

Talvez o que fique mais claro, com o passar dos anos, seja a diferença entre o que é possível evitar e o que não é. Essa, tenho para mim, é uma ótima descoberta. Só assim passamos a conviver melhor com aquilo que, um dia ou outro, baterá à nossa porta. 

Compartilhar: