Um novo momento

Um novo momento

Nos últimos dias tive de tomar uma decisão difícil, que foi definir minha saída da Prefeitura de Ribeirão Preto. Quando aceitei o convite da prefeita e me propus a assumir a Secretaria da Infraestrutura, ávida para achar uma alternativa ao modelo de gestão do asfalto que via pela cidade, estava disposta a empreender todos os meus esforços para um resultado positivo e para uma transformação naquilo que eu criticava enquanto cidadã e moradora de Ribeirão Preto.

Entrei na Secretaria de Infraestrutura e me deparei com diversas dificuldades. Falta de recursos, falta de planejamento e encontrei bairros cujas vias não recebiam intervenção asfáltica há pelo menos 30 anos. Descobri a possibilidade de se criar um Sistema de Gerenciamento do Pavimento Urbano (SGPU). É possível elaborar um modelo de trabalho para a recuperação das vias, com um levantamento minucioso sobre a situação de cada rua e cada avenida, para que a intervenção seja precisa. Do contrário, como tem ocorrido até aqui, serão intermináveis as operações tapa-buracos. Esta solução, fato constatado por todos, é apenas paliativa e sem um prazo duradouro.

Se a Administração Municipal destinasse R$ 10 milhões mensais à pasta, as ruas e avenidas estariam em uma situação bem melhor. Entendendo tudo isso, fui para a Secretaria de Governo, no início deste ano, buscando, ali, os caminhos para viabilizar recursos, não apenas para a Infraestrutura, mas para todos os projetos do município. Nesta pasta, compreendi a necessidade de as secretarias se comunicarem para que, com informações mais completas, pudéssemos buscar saídas que estavam no corpo da Administração. Ali, propus a criação de um Fundo Municipal para a recuperação do pavimento urbano. Este é um estudo que passou por quatro secretarias e poderá balizar o trabalho para, com recursos carimbados, mudar a cara da cidade a partir do próximo ano.

Na Secretaria de Governo, pude também rever um projeto que estava morto. Uma lei autoriza a Prefeitura de Ribeirão Preto a fazer parcerias com o setor privado para compartilhar o espaço urbano de maneira mais organizada e inteligente. Esta legislação poderá também ser aprovada pela Câmara de Vereadores e estabelecer novas relações com o setor produtivo da cidade.

Entrei no governo municipal como cidadã e assim me comportei. Muitos comentários foram feitos sobre minha entrada, minha permanência e, com certeza, muito também será dito sobre minha saída, mas tenho a clareza de que meus sentimentos e minhas ideias não foram movidos por interesses políticos ou partidários. Encontrei, durante este um ano e sete meses na Prefeitura de Ribeirão Preto, funcionários dedicados, empenhados e muito prestativos. Só foi possível dar andamento a essa série de projetos que consegui, porque havia uma equipe empenhada em um novo modelo, um modelo alternativo de gestão.

Graças a essa equipe, conquistei algumas vitórias, como:

- Dar início ao projeto Ribeirão Mais Iluminada, com o objetivo de trocar 66% das lâmpadas do município por luzes mais potentes e econômicas;

- Implantar o projeto de ressocialização com detentos, inicialmente com 46 homens, hoje com 92 e já solicitado um terceiro ônibus, com mais 46 reeducandos, que colaboram com a manutenção da cidade na prestação de serviços como limpeza de canteiros, pinturas de guias e roçada;

- Ampliar a coleta seletiva no Município, que cresceu mais de 100% entre 2014 e 2015. Só no primeiro quadrimestre deste ano, a coleta saltou de 177,94 toneladas em 2014 para 374,96 toneladas. O crescimento se baseou, inicialmente, no aumento do número de equipes distribuídas nos bairros onde existe o serviço de coleta seletiva, mas, principalmente, na ampliação do trabalho de divulgação do serviço, oferecido em 25 bairros da cidade. Participam do projeto a Prefeitura, a Estre e a Cooperativa Mãos Dadas;

- Viabilizar o recapeamento de 122 km de ruas e avenidas da cidade, por meio de projetos junto ao Governo Estadual (pelo programa Desenvolve SP), ao Ministério das Cidades e com recursos próprios. Muitas das vias de Ribeirão Preto não possuem intervenção há décadas e necessitam da intervenção. O projeto segue em andamento nos bairros Campos Elíseos e Ipiranga;

- Coordenar a Unidade de Gestão Energética Municipal (UGEM), uma parceria entre a Prefeitura de Ribeirão Preto e a CPFL, com o objetivo de otimizar e economizar a energia no município, por meio de ações como a troca das lâmpadas de todos os semáforos da cidade por LED. Isso resultou em economia de R$ 500 mil anuais aos cofres municipais;

- Colaborar na implantação do Comitê Orçamentário Financeiro (COF) e do Comitê de Gestão de Receita (COGER), dois comitês dos quais fiz parte. Ambos têm como objetivo principal o equilíbrio das contas municipais. A principal função do COF é avaliar periodicamente o orçamento da cidade e, a partir daí, propor ações para redução de despesas e corte de gastos. Já o COGER tem como principal objetivo otimizar a arrecadação e modernizar os mecanismos de cobrança, com a finalidade de manter a economia do município adequada;

- Coordenar a Limpeza Urbana de Ribeirão Preto entre 2014 e 2015;

- Administrar a Secretaria da Infraestrutura de Ribeirão Preto, durante todo o ano de 2014, quando a Operação Tapa-buraco reparou cerca de 8 mil buracos.

Nesse período, tentei estabelecer diálogo com todos que me procuraram ou foram procurados pela Administração Municipal. Estava certa, como todos nós devemos sempre estar, de que nunca é possível agradar a todos. Tampouco era minha expectativa ser uma unanimidade. Sei, no entanto, que consegui construir sólidas relações durante todos esses meses, criando laços com grandes profissionais que encontrei, sejam eles colegas de serviço municipal ou parceiros da Prefeitura. Se me perguntarem, hoje, se fiz tudo o que queria fazer enquanto funcionária pública, posso responder claramente que não. Gostaria de ter feito mais. Acredito que seja possível fazer muito mais. No entanto, neste momento, sei que toda contribuição que pude fazer, fiz. Não há mais espaço para que possa colaborar nesta Administração.

Graças a essa oportunidade, conheci como funciona a famosa “máquina pública”. Dentro dela, posso não ter conseguido avançar como queria nas minhas ideias e propostas planejadas quando comecei, mas aprendi muito sobre os caminhos para uma condução mais moderna do setor. E mais ainda: ela é possível. Com um grupo focado e direcionado aos caminhos que têm esse objetivo. Aliei minha experiência na iniciativa privada com as particularidades do universo da política. Aprendi sobre as dificuldades da gestão pública e como superar alguns desafios que aparecem cotidianamente.

Nessa valiosa experiência no serviço público, fiquei com a certeza do que sempre defendi: não se faz políticas públicas sem a participação do cidadão. Enquanto os moradores das cidades não se sentirem como parte delas, a tendência é cada vez mais culparmos o governo por aquilo que também não fazemos. É preciso participação e também transparência. Para mim, essas duas palavras falam muito sobre o que é a necessidade do poder público. Essa passagem pela administração fortaleceu em mim também antigas crenças que se comprovaram na prática. Deixei meu cargo no Governo Municipal para retomar minhas atividades como jornalista e empresária e agradeço cada um dos amigos e colegas que encontrei, que me mostraram diferentes caminhos. Nesse período, baseado em tudo o que conheci, estabeleci a clareza de meus princípios. Saio com o sentimento de gratidão por todas as batalhas que enfrentei, com grandes vitórias, em meio a tantas e notórias dificuldades. Obrigada, prefeita, pela oportunidade. Enfim, obrigada a todos que se dedicaram junto a mim, nas diversas frentes de trabalho.

Compartilhar: