Uma luta solitária

Uma luta solitária

Desde pequena, por hábito familiar, vou à missa aos domingos. Já escrevi por aqui algumas vezes sobre manter esse costume ao longo dos anos e, atualmente, frequentar a Catedral Metropolitana de Ribeirão Preto — rotina que se tornou bem representativa em minha vida.

Indo à igreja semanalmente, não posso deixar de acompanhar a saga do Padre Chico, pároco da Catedral, em tentar reformar as instalações religiosas, que sofrem com o passar do tempo e a urbanização à volta. Não é de hoje que a questão envolvendo o trânsito no entorno da Catedral é pauta importante na cidade e laudos já comprovaram o impacto do tráfego de veículos nas estruturas da igreja, causando severas rachaduras.

No meio dessa luta, que já dura alguns anos, acompanhamos, de longe, o incêndio que atingiu a Catedral de Notre-Dame, em Paris, e que comoveu muitos religiosos em abril. A igreja francesa guarda não apenas as referências do catolicismo, mas, também, da história mundial, onde estão relíquias — a mais valiosa delas é a Santa Coroa. Segundo a crença católica, ela teria sido usada por Jesus pouco antes de ser crucificado. De acordo com o site da catedral parisiense, ela é composta por um “círculo de juncos unidos por fios de ouro, com um diâmetro de 21 centímetros”. Também tem destaque na Notre-Dame o grande órgão, com cinco teclados e cerca de 8 mil tubos. Ele foi construído a partir do século 15 e seguiu sendo ampliado até alcançar o tamanho atual, no século 18. Sobreviveu, inclusive, à Revolução Francesa, sem danos. 

O presidente Emmanuel Macron prometeu a reconstrução da catedral em cinco anos. Até agora, bilionários do mundo inteiro arrecadaram 750 milhões de euros, o equivalente a R$ 3,3 bilhões. O número, tão alto, é motivo de debate, pois há quem diga que não há a necessidade de tanto recurso para o restauro.

Quando vejo essa mobilização internacional pelo patrimônio de Notre-Dame, fico feliz em saber que, entre os mais abastados, há aqueles que se interessam pela preservação histórica e cultural no planeta. Já aqui em Ribeirão Preto, o cenário não é dos mais animadores.

O padre Chico luta com parcos recursos para conseguir restaurar a nossa Catedral Metropolitana de Ribeirão Preto. Busca, por meio de rifas, eventos e doações espontâneas de fiéis, arrecadar o suficiente para financiar as obras — uma parte delas, inclusive, já está em andamento, mas ainda há muito por fazer.

Apesar de todo o esforço do padre Chico, não vimos em Ribeirão Preto a movimentação de empresários que poderiam contribuir com a revitalização e as obras que garantirão a preservação da Catedral. Estamos em uma das cidades mais ricas do Estado de São Paulo e é certo que, mesmo que não sejam possíveis doações milionárias, teríamos a possibilidade de articulações maiores que permitissem à igreja reunir, mais facilmente, todo o dinheiro necessário. 

Uma pena que não tenhamos o senso coletivo de preservação, a despeito de crenças religiosas. A Catedral de nossa cidade não serve apenas como templo de oração, mas, também, como a possibilidade de vivenciar a história e a cultura de Ribeirão Preto, fundamentais de serem preservadas. Afinal, uma sociedade sem passado não há como se sustentar no presente. 

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