Uma questão de foco

Uma questão de foco

Início de ano é época de se ocupar de novas iniciativas. A lista das metas e dos objetivos ganha espaço e muitos de nós tentamos, com todas as forças, criar um mecanismo para tirar do papel tudo aquilo que queremos realizar nos meses que vêm pela frente. Um novo ciclo traz, na maioria das vezes, grande expectativa positiva. O que temos de fazer, fundamentalmente, para que essa esperança não se transforme em desapontamento, é tratar de maneira objetiva e factível aquilo que desejamos.

Muitas vezes, criamos ideais de situações que nem sempre correspondem à realidade e estabelecemos objetivos que não são possíveis de serem realizados, porque elucubramos um cenário que não tem muito a ver com nossa vida.

Eu, por exemplo, cheguei a pensar na possibilidade de traçar uma meta relacionada à corrida a partir de um livro que li esses dias. O autor, o japonês Haruki Murakami, descreve como, ao longo de 30 anos, tem uma rotina de treinos para correr diariamente e realizar maratonas. Todos os dias ele percorre 10km — e hoje já está com 70 anos.
Quando terminei o livro “Do que falo quando falo de corrida”, pensei em tentar fazer o mesmo: correr, diariamente, 10km. Já faço isso pelo menos uma vez por semana, na esteira. Em outros dois dias, dos três que vou à academia, corro, em média, 5km. Fiquei empolgada com a ideia do autor e logo desejei fazer o mesmo. Mas foi uma ideia que durou menos de um dia na minha cabeça.

Embora os mais próximos saibam que tenho uma personalidade um tanto resiliente e me dedico intensamente aos objetivos que traço, esse foi um dos casos em que precisei fazer algumas ponderações. Por mais empolgada que a ideia de correr esse percurso diariamente me deixasse, é fato que eu e o autor estamos em realidades e contextos diferentes: ele tem o hábito da corrida há 30 anos e eu passei a me dedicar um pouco mais a esse esporte nos últimos cinco anos. Além disso, há algumas outras diferenças que resolvi considerar, como o foco e as prioridades de cada um.

Por causa do objetivo da corrida, passei a refletir sobre a importância de termos foco e determinação em cima daquilo que nos propomos a fazer. Não basta criarmos grandes expectativas na cabeça a partir do que imaginamos, sem relacionarmos essa ideia às condições que temos, de fato. Muitas de nossas frustrações podem surgir porque estabelecemos metas que não levam em conta nossa realidade. Pensamos em projetos faraônicos e nos decepcionamos por não conseguirmos executar, mas nos esquecemos de ponderar os motivos que impedem a realização. 

Talvez possamos traçar objetivos que tenham mais conexões com nosso estilo de vida ou nosso contexto, evitando os desapontamentos e criando mecanismos para avançar cada vez mais, cumprindo metas e crescendo a partir delas. Esse pode, inclusive, ser o primeiro item da lista deste início de 2019. 

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