A virtude da paciência

A virtude da paciência

Assistindo a uma palestra do jornalista Ricardo Boechat, morto numa queda de helicóptero há alguns meses, ele comentava que as crises são contemporâneas. Isso diz muito sobre como vemos o tempo: a intempérie atual é sempre tida como a mais pesada em comparação com aquela que passou tempos atrás.

Quem acompanha o noticiário no Brasil, quem viveu na pele a crise recessiva de 2015 e 2016 e que acreditava que, com o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, em um país sob o comando de Michel Temer, iríamos, enfim, entrar no famoso círculo virtuoso, viu a esperança ficar por mais algum tempo na sala de espera com o encontro tenebroso do então presidente com o empresário Joesley Batista.

No entanto, logo teríamos eleições e a esperança se acendeu, novamente, no coração dos brasileiros.

Passado o pleito, com a euforia controlada, estamos, de novo, acompanhando passo a passo a resolução nos salões nobres sobre o que vai acontecer com a salvadora reforma da Previdência. A cada dia, um novo lance. Presenciamos, até, deputado acusado de portar arma no lugar em que a palavra deveria ser o elemento transformador.

É diante de contextos como esses que volto a refletir sobre o quanto precisamos da paciência na vida. E cada vez mais acredito que ela vale para tudo: para a política, para os negócios e as nossas relações.

Dias atrás, eu lia um texto que tratava disso - compreender a virtude da paciência. Não podemos mudar o externo e é preciso aceitar.

Segundo estudiosos da condição humana, uma virtude só pode florescer quando ela é exigida e podemos observar isso no nosso dia a dia, afinal, se não precisarmos esperar, certamente não iremos desenvolver a paciência. Se conseguirmos resolver os nossos assuntos com rapidez, também não precisaremos ser pacientes.

Porém, basta que as situações saiam do nosso controle, que não se desenvolvam como esperamos, naquele momento em que tudo parece que conspira contra, para surgir a grande oportunidade de aprender a aguardar. É como fazer um exercício físico: entender que é o momento de praticar uma das maiores virtudes, a tal paciência – que, às vezes, até chamamos de resiliência.

Está escrito em Eclesiastes: “Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu. Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou”.

Se compreendermos que existe um tempo da natureza e que esse tempo não é o que a nossa mente quer, deseja ou precisa, talvez possamos viver em harmonia. É preciso entender que viver melhor passa pela espera e, quando captamos isso, existe uma grande chance de nos harmonizarmos com o mundo e com o outro, vivendo com mais sabedoria esse grande presente que é a vida. 

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