Vivendo a tormenta

Vivendo a tormenta

Lá no início, muitos tentaram prever. Quando a Covid-19 ainda era um mal distante fazendo milhares de vítimas na Itália, a doença parecia atingir em cheio os mais idosos. Depois, passou a ser temível a obesos e a quem tivesse alguma comorbidade. Hoje, mais de um ano após o registro do primeiro caso de infecção pelo novo coronavírus no Brasil, vivemos uma tragédia anunciada que faz vítimas sem distinção de sexo, idade ou tipo físico.

A morte do ator Paulo Gustavo, na última terça-feira, comoveu todo o país. Como acreditar que uma pessoa de 42 anos sofreria tanto nas mãos desse vírus? Mais de um mês internado, complicações e uma luta incansável pela vida.

Paulo é uma das mais de 400 mil vítimas da Covid-19 em todo o Brasil. Só em Ribeirão Preto, são mais de 1900 mortes pelo novo coronavírus e a cidade tenta, diante da morosidade do envio de vacinas, imunizar os grupos prioritários. O país apresenta números trágicos crescentes no momento em que uma CPI no Senado Federal busca justificativas para estarmos patinando em um lamaçal de desesperança.

Tem sido difícil encontrar ânimo todos os dias diante de uma realidade que insiste em não dar sinais de melhora. Parece que vivemos uma tormenta interminável e quando procuramos explicações para o que tem acontecido, nenhuma justificativa se encaixa. Por que tantas vidas abreviadas? Por que tanto sofrimento? E até quando?

O Brasil é um país que já foi considerado referência na imunização da população, liderando grandes campanhas de vacinação. É um país que detém um dos principais sistemas públicos de saúde, o SUS, que oferece oportunidade de tratamento e cura a milhões de brasileiros. É um país que aprendeu a conviver com as dificuldades e romantizou o jeito de ser feliz diante da dura realidade.

Hoje, mais do que nunca, é da fé — que para muitos está abalada — que precisamos. Fé em dias melhores, na solidariedade, no futuro.

Tenho para mim que nem todas as respostas virão e que essa pode ser uma oportunidade para mudarmos as perguntas. Talvez devamos nos questionar sobre o que temos feito para minimizar os efeitos de tanta tragédia. E o quanto estamos dispostos a colaborar para sairmos dela.

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