A carreira do músico

A carreira do músico

Em 1999, quando o Napster foi apresentado ao mundo, duvido que Shawn Fanning – criador do programa de compartilhamento de música pela internet, mesmo em seus sonhos mais subversivos, tenha imaginado o caos que implantaria na indústria fonográfica naquela época.

Em 2001 o Napster se tornou uma empresa e chegou a atingir oito milhões de usuários conectados, compartilhando aproximadamente 20 milhões de músicas diariamente. Então, o que era um incômodo, tornou-se uma guerra. Que foi vencida pelas grandes empresas da indústria da música em 2002. Ano em que os servidores do Napster foram desligados, mas tudo havia mudado: novos sites de compartilhamento surgiram e com isso até o perfil profissional dos músicos mudou.

Se antes do Napster os músicos e bandas ficavam aguardando as grandes gravadoras ouvirem as suas fitas demos e rezando por um contrato, com o surgimento das redes de compartilhamento de músicas, os artistas puderam disponibilizar suas músicas na internet, encurtando o caminho até seu público.

A ação de estúdios e bandas como o Metallica contra o Napster, na época, ilustrou o desespero em que as “grandes empresas” se encontravam.

Com liberdade dentro da internet, o músico deixou de ser somente um idealizador e passou a ser também executor. Estúdios menores tiveram a oportunidade de lançar bandas talentosas. E algumas bandas souberam aproveitar do momento para declarar independência e conquistar o seu espaço.

O Radiohead, por exemplo, que havia rescindido o contrato com a gravadora EMI em 2003, lançou para download, em outubro de 2007, o álbum In Rainbows. A novidade era que o público tinha a opção de pagar o valor que achasse que as músicas valiam. Dessa maneira o Radiohead conseguiu provar que, mesmo desvinculadas de grandes gravadoras, as bandas poderiam arrecadar ainda mais. Claro que não há como não considerar o prestígio que o Radiohead já mantinha desde o início da carreira, mas a mudança no mercado da música tornava-se ainda mais evidente.

Com essa mudança os músicos tiveram que agregar valor de mercado aos seus produtos. E estava estabelecido o novo perfil profissional do músico.

Músico empreendedor
Leonardo Castro, Bruno Silva, Breno Vetorassi e Thiago Quilice. Foto: Victor MarimNa última quinta-feira (23/05), em um debate sobre o tema "A carreira do músico: Um caminho empreendedor", foi discutido a música como produto e o músico como profissional empreendedor. É difícil e confuso conceber a música como um produto. Mas, na verdade, a música é um produto! Pois demanda mão de obra – dos músicos, dos produtores de evento, montagem de palco, logística de instrumentos, horas de gravações em estúdio e por aí vai. O evento, batizado “Quinta Sim”, realizado pela empresa Ambiente CoNéctar Coworking, foi pensado exatamente para tentar debater e elucidar alguns assuntos dentro da temática.

Afinal, como empreender nesse setor e como manter uma “empresa da música”? Por ser um assunto que demanda muito tempo, foram poucas as conclusões atingidas durante o debate. Uma delas foi: não há uma fórmula para o sucesso. Não dá pra citar um caminho exato para empreender. Mas, na opinião do consultor Thiago Ferreira Quilice, sócio da XVI Consultoria, empreender na música não é diferente de empreender em outros setores profissionais: é necessária uma pesquisa de mercado, traçar o público-alvo – o básico. No entanto, Quilice deu uma dica importante. O consultor trabalha com o Quadro Canvas, um modelo de organização de negócios bastante interessante, e apresentou o modelo como base de um empreendimento. O quadro pode ser pesquisado aqui.

Convenhamos: é difícil empreender em qualquer ramo! Na arte, então, é quase impossível. Pois tudo depende muito do momento. Um músico pode compartilhar uma canção na internet e ficar famoso. Um produtor pode lançar uma banda que o Brasil todo goste. O segredo, segundo Quilice, é continuar empreendendo e saber aproveitar esses bons momentos.

Os organizadores do “Quinta Sim”, pensando em abordar diversas áreas dentro da música, convidaram, além do consultor Thiago Quilice, Breno Vetorassi, baterista na banda Vinil Verde e empreendedor do Estúdio Vira Disco; e Leonardo Castro, gerente de planejamento do Festival João Rock.

Leonardo Castro, do João Rock, contou que durante a faculdade teve um grupo de estudos sobre a “Cadeia Produtiva da Música”, inspirado pela tese de mestrado de Leonardo Salazar. (Autor do livro “Música Ltda: o negócio da música para empreendedores”. Salazar é especialista em Gestão de Negócios, bacharel em Jornalismo e técnico em Contabilidade. É também empresário artístico da banda Novos Bossais e instrutor setorial de cultura do SEBRAE).

O tema a “Cadeia Produtiva da Música” ficou mais claro quando Vinícius Nisi, integrante da “Banda Mais Bonita da Cidade”, entrou no debate pela internet. A “Banda Mais Bonita da Cidade” ficou famosa pelo sucesso do clipe “Oração” (Assista aqui). Antes de alcançar o sucesso em 2009 a banda não era registrada e mal tinha site ou página nas redes sociais. Nisi recorda que contrataram um advogado especialista em direitos autorais para auxiliar a banda. Os integrantes tiveram que se estruturar às pressas quando viram o sucesso do vídeo no site do Youtube.

A “Banda Mais Bonita da Cidade” é um exemplo de músicos que souberam aproveitar de um momento oportuno para empreender. Conseguiram shows para tocar fora do país e lançaram, em 2011, o primeiro CD. Hoje a banda trabalha num modelo bem comum entre grupos no Brasil. Conhecido como autogestão, em que cada integrante exerce uma função dentro da banda. Vinícius afirmou que ninguém na banda é rico, mas com um modelo exato de administração de finanças, dá pra viver da própria música – já que não há uma sequência regular na agenda de shows.

Enfim, a única certeza tirada do debate é de que há uma grande dificuldade em se encontrar um caminho exato para investir e empreender na música e em tudo o que através dela é criado.

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