Reflexo

Reflexo

 

 Mulher ao Espelho – Cecícila Meireles

Hoje que seja esta ou aquela, pouco me importa. Quero apenas parecer bela, pois, seja qual for, estou morta. Já fui loura, já fui morena, já fui Margarida e Beatriz. Já fui Maria e Madalena. Só não pude ser como quis. Que mal faz, esta cor fingida do meu cabelo, e do meu rosto, se tudo é tinta: o mundo, a vida, o contentamento, o desgosto? Por fora, serei como queira a moda, que me vai matando. Que me levem pele e caveira ao nada, não me importa quando. Mas quem viu, tão dilacerados, olhos, braços e sonhos seu se morreu pelos seus pecados, falará com Deus. Falará, coberta de luzes do alto penteado ao rubro artelho. Porque uns expiram sobre cruzes, outros, buscando-se no espelho.

 

Foi uma busca insana, e hoje sentindo os resultados aparecerem, penso que valeu a pena! Mas, claro, não foi sempre assim... Tenho uma vida muito ativa. Sou casada, tenho três meninos (5, 10 e 17 anos), uma enteada de 18 anos e um cachorro maravilhoso. Moramos todos juntos e misturados. Trabalho fora e cuido de TODA a rotina da casa e de seus integrantes. A agitação é grande!                                                                                                                                                                          

Era de se esperar que o corre-corre do dia a dia fosse me ajudar nos resultados pessoais, afinal queimava mais calorias do que se estivesse malhando por duas horas numa academia... Nada! Achei que esse dinamismo todo daria conta de driblar e balancear as "calorias"... em vão...                                                                                                                                          

Mesmo assim apostei nisso ano após ano... Ganhei um “arredondamento” corporal que chegou a ser constrangedor. Até não parecia tão grande por causa dos “truques” que me sentia obrigada a praticar: uma cinta bem apertada aqui, um salto pra alongar a silhueta ali, roupas escuras, largas, sóbrias... Um dia ouvi de um dos meus filhos que “ele não gostava do meu estilo”! Mas eu não tinha estilo, era obrigada a usar o que me servia não o que queria!                                                                      

Pouco a pouco a frustração causada pela distância entre o que eu vivia e tinha me tornado, e a idealização do que eu achava que deveria ter sido e conquistado, foram me consumindo, ou pior, me “inflando”. Quando me dei conta vi no espelho o reflexo de um corpo “deformado”. Um “entupimento de emoções”! Eu precisava mudar.

Imagem: Pablo Picasso, Moça Diante do Espelho, c. 1932

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