ESTAGIÁRIOS NA DOCÊNCIA: SUAS (DES)CONSTRUÇÕES PARA A EDUCAÇÃO ESCOLAR

ESTAGIÁRIOS NA DOCÊNCIA: SUAS (DES)CONSTRUÇÕES PARA A EDUCAÇÃO ESCOLAR

 

Paula Rezende Hautz Dias

Filomena Elaine Paiva Assolini

 

          Quando se fala em estagiários, logo se pensa em jovens sem experiência profissional em qualquer área de trabalho. Certo? Não necessariamente... E é isso que veremos nesse breve artigo de opinião que versa sobre este tema.

          Receber alunos de universidades públicas ou privadas, ou seja, estagiários nas escolas brasileiras, nem sempre é visto com bons olhos pelas equipes gestoras e corpo docente. E a razão, às vezes, é até compreensível (mas não aceitável) devido a alguns fatores. Por exemplo, quando o professor é inexperiente e inseguro, teme que alguém de “fora” o observe e veja algumas possíveis falhas, ou, quando a gestão também fica incomodada com jovens andando pela escola e olhando tudo ao redor. Falta a compreensão das escolas de que não se trata de observações que, de algum modo, poderiam trazer críticas negativas, mas ao contrário, pontuações e sugestões, que quando acontecem, são sempre construtivas!

          Obviamente, a aversão e desconforto pontuados acima e, digamos, um tanto estereotipados, não podem ser generalizados, uma vez que existem muitas escolas e seus quadros profissionais que recebem estes sujeitos de braços abertos, principalmente no sentido de, por meio deles, levar todos os problemas e desafios escolares do dia a dia para serem estudados pelas universidades e, em troca, colaborar com possíveis soluções para tais adversidades cotidianas.

          Este jovem público chega às instituições escolares cheios de vontade de aprender e ajudar! Tudo o que precisam é de espaço e mais abertura para poderem colocar em prática esta energia, própria da juventude contemporânea. São nativos digitais e com uma macro visão construída pelas teorias estudadas na universidade. Entrosam-se muito bem com as crianças em suas brincadeiras nos recreios. Fazem questionamentos inteligentes e pertinentes aos gestores e, ainda quando findam sua estadia, presenteiam-nos com algum projeto inovador que, certamente, será de grande valia para a escola.

          Abaixo estão alguns questionamentos que fizemos a um grupo de cinco estagiárias de uma universidade pública na cidade de Ribeirão Preto, no sentido de uma autorreflexão das estudantes acerca de seu trabalho de observação e desenvolvimento do projeto que estão aplicando em nossa escola e, também para que nós, equipe gestora, saibamos como melhorar estas relações, para serem cada vez mais frutíferas para nossos alunos.

 Suas respostas nos dão a dimensão da importância da valorização do estágio.

Vejamos:

 

01 - QUAIS FORAM SUAS EXPECTATIVAS EM RELAÇÃO AO ESTÁGIO?

            Até o quinto semestre do curso de Pedagogia, só havíamos passado por estágios de observação com intervenção em sala de aula, consoante às metodologias propostas para o ensino das disciplinas obrigatórias aos anos iniciais do ensino fundamental. Portanto, com o início do sexto semestre de curso, iniciamos também o primeiro estágio em gestão escolar. Nossas expectativas, misturadas com sentimentos de ansiedade e curiosidade, esbarravam no desejo de poder conhecer e acompanhar a equipe que, muitas vezes nos bastidores, atua diariamente para a harmonização de tudo que compõe a escola. Participar de reuniões, entender um pouco sobre a distribuição dos recursos repassados à escola, observar a relação entre a direção/coordenação e os professores, o contato com as famílias, enfim… como é a rotina gestora de uma escola. Além disso, já refletíamos também sobre nossa presença como estagiárias naquele ambiente escolar e como poderíamos atuar, de forma pontual, mas simbólica, junto à equipe gestora para contribuir com a melhoria da instituição.

 

02 - FORAM BEM RECEBIDAS EM TODAS AS ESCOLAS INDICADAS (PARA O ESTÁGIO)?

            Já tivemos várias experiências com a recepção das escolas às estagiárias. Algumas boas, outras ruins. Mas, nesse estágio em Gestão Escolar, de forma particular, passamos por uma situação constrangedora. Na realidade, a escola atual não estava disponível para nosso estágio, no início. Antes de virmos para cá, visitamos outra escola, na qual não fomos bem recebidas. Dessa maneira, com o apoio da educadora que nos orienta para o estágio, fomos destinadas à outra escola e tivemos uma experiência totalmente oposta à anterior e, assim, temos conseguido desenvolver uma experiência prática sobre Gestão Escolar.

 

03 - QUAIS AS PRINCIPAIS DIFICULDADES QUE PERCEBERAM QUE A ESCOLA ENFRENTA?

            Com certeza, no que se refere à relação com as famílias. Desde o início, essa foi uma demanda apresentada pela equipe gestora e sobre a qual desenvolvemos nosso projeto de intervenção com a escola. O grande número de alunos para um número reduzido de funcionários revela dificuldades de comunicação e sobrecarga para o atendimento das demandas.

 

04 - QUAL O PRODUTO FINAL QUE SERÁ OFERTADO À ESCOLA?

            Nós estagiárias, apoiadas pela educadora do curso de Pedagogia da universidade em que estudamos e pela coordenação pedagógica da escola na qual estagiamos, desenvolvemos e aplicamos um questionário destinado aos pais dos alunos de quatro turmas da escola, intitulado: “Comunicação escola-família e acesso às informações: quais as percepções dos responsáveis acerca da comunicabilidade com a escola?”, sob a justificativa apresentada na questão anterior, visando investigar a relação das famílias com a escola, além de mensurar e compreender a participação desses responsáveis nas decisões escolares, suas dúvidas, dificuldades e/ou sugestões. Como produto desse questionário, elaboramos um fôlder informativo que será distribuído a todos os alunos da escola, com o intuito de esclarecer questões relacionadas à gestão democrática, além de apresentar sinteticamente os resultados do questionário aplicado.

 

05 - ESTA EXPERIÊNCIA CONTRIBUIRÁ DE QUE FORMA EM SUA FORMAÇÃO INICIAL?

A cada estágio que realizamos, ao longo de nossa graduação, temos mais convicção de que o mesmo se constitui como um espaço de crescimento (tanto pessoal quanto acadêmico), de observação da dialética entre a teoria e a prática, de desafios (muitos em razão da necessidade de conciliar a rotina do estágio remunerado com a do obrigatório, o que, infelizmente, nem sempre é possível), de fortalecimento das relações interpessoais, de aprender e ensinar. E este estágio, especificamente, nos possibilitou conhecer a dinâmica de trabalho da equipe gestora, além de nos relembrar, diariamente, a importância de todos os que constituem a instituição de ensino (gestores, professores, estudantes, familiares/responsáveis e funcionários) trabalharem juntos em prol da promoção de uma educação de qualidade e fortalecimento da gestão democrática.

 

06 - ALGUMA DE VOCÊS PENSOU EM DESISTIR DA DOCÊNCIA DURANTE OU APÓS A VIVÊNCIA DO ESTÁGIO?

            Não.

 

07 -  O QUE MUDARIAM/NÃO MUDARIAM NA DINÂMICA ESCOLAR, SE PUDESSEM?

Apoiadas no artigo de Vitor Paro (2008), “A estrutura didática e administrativa da escola e a qualidade do ensino fundamental”, acreditamos ser necessária a adoção de uma “direção colegiada”, que, segundo Paro, se trata de um “conselho diretivo” (p. 132) “(...) composto por três ou quatro educadores que, como coordenadores do esforço humano coletivo da escola, teriam a função de dividir a responsabilidade de sua direção de forma participativa e em cooperação com os demais mecanismos de participação coletiva, em especial o conselho de escola” (p. 132). Com a possibilidade das responsabilidades serem compartilhadas, evitar-se-ia, desse modo, a sobrecarga de um indivíduo, como acontece normalmente.

Levando-se em conta os depoimentos das estagiárias, certamente entendemos que todos eles (estagiários), de quaisquer universidades, têm sempre uma proposta de (des)construção, mas no escopo da desconstrução de Derrida, na qual ele diz ser o movimento no sentido de compreender como um conjunto foi construído (Derrida, 1987, 1988, p. 21). Por este ponto de vista estes estudantes conseguem entender como a aprendizagem no âmbito escolar vem se constituindo e, partindo daí, poderem refletir e descobrir novos efeitos de sentidos positivos e inspiradores para transformações efetivas no dia a dia da educação, que deve ser sempre em espiral, com a prática e teoria que se completam e se ressignificam hodiernamente.

 Posto isso, estejamos sempre abertos às contribuições valiosas destes jovens adultos, futuros sujeitos professores, nos quais depositamos nossas esperanças de uma educação autêntica...

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DERRIDA, J. De La Gramatologie. Paris: Les Éditions de Minuit, 1967.  

 

PARO, V. H. A estrutura didática e administrativa da escola e a qualidade do ensino fundamental. Revista Brasileira de Política e Administração da Educação, [S. l.], v. 24, n. 1, 2011. DOI: 10.21573/vol24n12008.19242. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/index.php/rbpae/article/view/19242. Acesso em: 17 mar. 2023.

 

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