Há espaço para autoria dentro da escola?

Há espaço para autoria dentro da escola?

 

 

Estela Vieira de Moraes Urias

            A constituição do sujeito se dá na e a partir da linguagem. Não há sujeito pronto, o sujeito vai se constituindo a partir da linguagem, a partir daquilo que vai ouvindo e pinçando das nomeações feitas pelos primeiros Outros que os cercam desde o nascimento.

            O ser humano chega ao mundo e necessita do Outro para garantir sua existência. É necessária a presença de outro que interprete seu choro e suas interações. Neste primeiro tempo é necessário que o outro possa dizer sobre aquele que está em constituição para que ele possa ser.

             A escola é um espaço para serem transmitidas heranças do que alcançamos enquanto humanos desde primórdios até os dias atuais enquanto civilização, novos significantes vão sendo inseridos na vida do sujeito. Há a entrada de algo que “descola” o sujeito dos significantes que até então tinham caráter de verdade absoluta para o sujeito e que garantiam a ele um lugar e, em última instância, sua preservação.

            Poderia ser a escola um campo fértil para dar ao sujeito condições para que ele pudesse fazer esse percurso de quem é falado para aquele que pode ser autor de sua fala e de sua existência, entretanto o discurso atual dentro das escolas acaba apagando as oportunidades para que o sujeito possa ser reconhecido também por aquilo que cria e possui de singular. Não há espaço para a singularização do sujeito.

            A herança que educadores transmitem diz respeito a esta tradução que são capazes de fazer sobre o mundo e sobre como os seres humanos se organizam e atuam enquanto sociedade. Entretanto, a escola pode ser também um espaço para que o sujeito possa obter um novo lugar a partir daquilo que sua singularidade pode produzir, mas para isso a escola precisaria reconhecê-lo a partir de suas experiências dentro e fora da escola, como alguém capaz de ser autor e protagonista do seu processo na vida e de aprendizagem.

            Como nossas crianças e adolescentes irão se reconhecer enquanto autores de sua própria vida, história se os educadores não permitem esse deslizamento?

            Estamos oferecendo esses espaços para falar sobre si a partir de si?

            Seria a divergência, o conflito, o confronto, a adrenalina uma tentativa de serem reconhecidos como autores?

            Quando abrimos espaço para o diálogo, trazemos a possibilidade para que o jovem possa ser narrador do que se passa com ele, seja sobre o mal-estar, sobre um incômodo, uma indignação. A possibilidade de ser autor também está na fala.

            É possível que ao abrir espaço, mediado pelos adultos para essas “pequenas doses” de experiências práticas de protagonismo, esse sujeito poderá se sentir mais atuante em sua própria vida e isso diminua o mal-estar diante dessas renúncias dos impulsos que a entrada na escola requer?

            Crescer e avançar tem relação à capacidade de sair do assujeitamento ao desejo do Outro e responsabilizar-se pelos próprios desejos. Como encontrar essa saída sem espaço para experimentar a autoria durante o processo de escolarização?

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