Dia D
Eliane Ratier
28 Nov 2014 14:16
Em 29 de outubro foi dia nacional do livro, hoje, 31, é dia das bruxas, do saci e de Drummond.
Todos esses assuntos desconexos me dizem respeito.
Leitora compulsiva, escrevo , uso mesmo suporte, objeto de desejo, o livro.
De magias e "artes" bem entendo de suas serventias na vida.
E Drummond, que o humano tão bem traduzia, é a poesia, pedra preciosa e inesquecível no caminho de todo dia.
Salve!
Para comemorar, dois Drummonds para vocês o meu abraço sem conhaque mas " comovido como o diabo".
Eliane Ratier
No meio do caminho
No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.
Poema de Sete Faces
Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.
As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.
O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.
O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.
Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.
Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.
Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.
