Fevereiro tem mais que carnaval

Fevereiro tem mais que carnaval

Olá, amigos.

Fevereiro tem carnaval, tem o fusca e violão, de Flamengo já não sei não, mas com certeza tem Tereza e tem mais, tem comemoração: Aniversário da Semana da Arte Moderna de 1922!

Foram três dias, 13,15  e 17 de fevereiro, de apresentações para lá de polêmicas no tradicional Teatro Municipal de São Paulo.

Marco de uma nova fase na arte brasileira alinhada às tendências internacionais, atingindo todas as expressões, música, artes, literatura.

O modernismo, de uma maneira geral, propunha uma ruptura com os padrões estéticos vigentes na busca por constante inovação.

O objetivo era surpreender, incomodar.

O incômodo movimenta em direção à resolução do problema, exige participação ativa, proporciona questionamentos e reflexões, o que é , certamente, uma boa função para a arte.

 Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Guilherme de Almeida, Manuel Bandeira, Graça Aranha, foram os principais escritores articuladores da Semana de Arte Moderna.

Para celebrar o momento colocarei aqui poemas e Mário de Andrade.

Mário nasceu em São Paulo em 9 de outubro de 1893 e faleceu na mesma cidade, cidade da qual era enamorado, em 25 de fevereiro de  1945.

Mário era múltiplo no fazer e no pensar, escritor, pesquisador, professor, funcionário público.

Acaba ter sua obra declarada “ de domínio público”, fato que deve torná-la mais conhecida.

Seu primeiro livro, Paulicéia Desvairada, 1922, é uma grande homenagem à São Paulo.

Seu livro mais popular , “ Macunaíma”, 1928, escrito aqui pertinho, em Araraquara, é matéria de vestibulares e de estudo no ensino de literatura nas escolas.

 

Paisagem No. 1

 

Minha Londres das neblinas finas! 
Pleno verão. Os dez mil milhões de rosas paulistanas. 
Há neve de perfumes no ar. 
Faz frio, muito frio... 
E a ironia das pernas das costureirinhas 
parecidas com bailarinas... 
O vento é como uma navalha 
nas mãos dum espanhol. Arlequinal!... 
Há duas horas queimou Sol. 
Daqui a duas horas queima Sol.

Passa um São Bobo, cantando, sob os plátanos, 
um tralálá... A guarda-cívica!  Prisão! 
Necessidade a prisão  
para que haja civilização? 
Meu coração sente-se muito triste... 
Enquanto o cinzento das ruas arrepiadas 
dialoga um lamento com o vento ...

Meu coração sente-se muito alegre! 
Este friozinho arrebitado 
dá uma vontade de sorrir!

E sigo. E vou sentindo, 
à inquieta alacridade da invernia, 
como um gosto de lágrimas na boca. 
 

De Paulicéia desvairada (1922)

 

 

 

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