Mais Manuel

Mais Manuel

Manuel moço estuda para ser arquiteto, mas a notícia funesta que o espreita impede a realização do sonho paterno. É diagnosticado tuberculoso aos 18 anos de idade.

Pneumotórax- Manuel Bandeira

Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse.

Mandou chamar o médico:
- Diga trinta e três.
- Trinta e três... trinta e três... trinta e três...
- Respire.


- O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.
- Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
- Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.

 

Manuel escreve versos como quem morre, mas sobreviveu á todos, pai, mãe, avô e até á querida irmã que zelava por ele. Os médicos não entendiam como alguém com um pulmão tão prejudicado pela doença estava bem de saúde e assim ficou até os 82 anos.

Desencanto- Manuel Bandeira

Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha meu livro, se por agora
Não tens motivo algum de pranto.

Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.

E nestes versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.

- Eu faço versos como quem morre.

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