Poesia- Adélia Prado
Em dezembro, 13, é o aniversário de Adélia Prado. Mineiríssima poeta dona de uma conversa que não se quer largar. Para comemorar, deixo um poema, um predileto.
Dona Doida
Adélia Prado
Uma vez, quando eu era menina, choveu grossocom trovoadas e clarões, exatamente como chove agora.
Quando se pôde abrir as janelas,
as poças tremiam com os últimos pingos.
Minha mãe, como quem sabe que vai escrever um poema,
decidiu inspirada: chuchu novinho, angu, molho de ovos.
Fui buscar os chuchus e estou voltando agora,
trinta anos depois. Não encontrei minha mãe.
A mulher que me abriu a porta, riu de dona tão velha,
com sombrinha infantil e coxas à mostra.
Meus filhos me repudiaram envergonhados,
meu marido ficou triste até a morte,
eu fiquei doida no encalço.
Só melhoro quando chove.