Tempo de Poesia
Setembro chega, e logo a primavera.
Já sentimos que o sol se demora mais no céu , o calor desnuda a pele e os pés e desejamos escapar da rotina para a beleza e o prazer.
A primavera é assim e, em regiões onde o inverno é mais rigoroso, ela é esperada e preparada com maior entusiasmo.
É tempo de sair às ruas, encontrar pessoas, ouvir e contar novidades, o que aconteceu no inverno.
Na Europa, nos tempos idos, havia os festivais da primavera onde a música, a dança e a poesia eram essenciais ao momento e faziam a festa.
Para celebrar nossa primavera em setembro, deixo aqui dois poemas que conversam, um de Mara Senna e outro meu, Eliane Ratier.
Aproveitem... Com meu abraço, Eliane
De Mara Senna , em Ensaios da Tarde
O que não pode ser
O que não pode ser
não se conteta emficar guardado
nos porões
ou escondido nos desvãos.
Traz no peito convicções anêmicas,
na boca uma recusa fajuta
e tanta ternura entranhada
no corpo
que chega a sentir uma coisa
que fere por entre as costelas.
Por vezes, veste-se de coragem
e despe-se dos seus pudores.
Mostra os seus humores,
prepara a mesa
e faz um alvoroço
que se faz ouvir até a esquina
Mas, ao menor sinal de encontro,
treme
e recolhe-se mais uma vez à sua sina
de não ser.
E volta a latejar lá no fundo,
tentando derrubar paredes.
de Eliane Ratier, em Notícias Poéticas
Inconfessável
Num macio qualquer me espalho,
ventre oferecido a um deslizar de mão.
O sexo, estrela úmida,
pulsa, brilha e cega.
Muda, te chamo.
Surdo, não ouves.
Distraído , não vês.
Transbordo em estragos.
Assustado, consertas o rumo.
Sou o destino certo da hora errada.
Uma conversa abortada
(era uma voz tão linda ao telefone!)
Sou,
em eterno segredo,
o teu mais puro desejo.
És o meu,
sem sabê-lo.