Os boletos da natureza

Os boletos da natureza

Os alagamentos registrados em Ribeirão Preto no final da tarde desta quinta-feira, dia 22 de janeiro, é mais uma manifestação da natureza. Um protesto contra a má utilização de seus recursos. Um ato contra o desleixo, o descaso.

Há muitas décadas governantes da cidade vem pressionando a natureza, sufocando o leito dos córregos e rios e permitindo a quase completa impermeabilização do solo da cidade. Os caminhos das águas vão sendo fechados sistematicamente.

Qualquer ser, pressionado por alguma situação se manifesta, reage. A natureza também vem fazendo suas cobranças não apenas em Ribeirão Preto, mas onde o homem com ela adquiriu dívidas.

E não há como se eximir de culpa. Poder público, iniciativa privada e população têm responsabilidade compartilhada nestes desastres naturais. É claro que a chuva foi demasiadamente forte, mas a prevenção também não existe há muito tempo.

Quando o poder público autoriza a construção de empreendimentos que impermeabilizam totalmente o solo, permite que a água da chuva procure lugar para escorrer até chegar ao seu destino. Com parte do solo permeável, parte da água que escorre pelas ruas ficaria retida.

E olha que já houve até lei aprovada pela Câmara com a exigência de áreas permeáveis na aprovação de projetos, mas a lei acabou vetada pelo Executivo, certamente por algum motivo técnico.

Se o poder público permite a impermeabilização e gasta milhões de reais em obras que nem sempre resolvem totalmente o problema, deve ser responsabilizado.

A iniciativa privada que pouco se preocupa com o meio ambiente, também tem sua parte de culpa ao não tomar medidas que reduzam os efeitos de intempéries.

Por fim o cidadão é parcialmente culpado por atos que levam ao entupimento de bocas de lobo que servem ao escoamento da água. É claro que pedras e areia da construção civil e dos remendos de pavimento também colaboram para a “eficiente” obstrução do caminho das águas.

Também na conta do cidadão está o grande volume de lixo acumulado nos cursos d’água. Há muito material reciclável nos leitos de rios e córregos. Um verdadeiro desleixo dos cidadãos.

É até possível argumentar que a chuva foi muito forte e não se evitaria os alagamentos. Mas seria possível reduzir os seus efeitos. Porque reclamar é válido, mas colaborar é muito importante.

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