Avaliação educacional (2): as dimensões da excelência do ensino

Avaliação educacional (2): as dimensões da excelência do ensino

            Empreender uma completa avaliação institucional reclama que se efetue uma série de avaliações dos diferentes agentes que compõem a cadeia do ensino-aprendizagem. Nestas avaliações, professores, estudantes, agências de fomento e instituições educacionais, públicas ou privadas, entre outros, atuando como agentes verificadores, avaliam os atributos (comportamentos, produtividade, etc) que os outros agentes são capazes de desempenhar. Assim, instituições acadêmicas avaliam a qualidade do ensino, pesquisa e extensão de professores, assim como professores avaliam o desempenho (eficiência) acadêmico de escolas, universidades e agências de fomento à pesquisa (ou ministério da ciência e tecnologia), estudantes avaliam a qualidade do ensino-instrução de professores, enquanto professores avaliam a qualidade acadêmica global de estudantes (e não apenas os seus desempenhos). Com isso, a intersecção destas diferentes informações torna possível retratar, fidedignamente, o que ocorre em cada instituição educacional.

            No caso da avaliação institucional, as atividades de ensino, pesquisa, extensão e administrativas são as mais relevantes para avaliar qualificação e produtividade do corpo docente. Os métodos utilizados para tal dividem-se em duas categorias: as atividades e realizações significativas dos docentes e as avaliações por pares dos docentes. As primeiras podem ser aferidas a partir do número de publicações e citações, com suas respectivas qualidades (fatores de impacto), auxílios recebidos (número, montante recebido), apresentações de trabalhos em eventos (nacionais, internacionais) e razão entre trabalhos apresentados em eventos e trabalhos publicados, entre outros. Já no ensino, por publicações (livros didáticos, apostilas, demonstrações experimentais didáticas), formação de grupo de estudos-pesquisa e avaliações discentes sobre a qualidade do ensino (este indicador não tem sido usual no Brasil, pelo menos nas instituições públicas; mas, em algumas instituições privadas, tem sido usado de forma regular, inclusive para remuneração e promoção) que podem sumariar tais realizações.

            Por sua vez, o conjunto formado por atividades de extensão, cultura e serviços parece não ter critérios unânimes, com poucos concordando sobre um modo comum que os pondere na avaliação institucional global. Certamente, publicações ligadas a tais atividades, bem como, à administração e a dados qualitativos sobre as contribuições à extensão, e à cultura, podem ser aqui considerados. De modo similar, a avaliação do corpo docente por pares avalia, na maioria das vezes, candidatos ao ingresso à carreira acadêmica e à efetivação no cargo, através de concursos públicos. Entretanto, pelo fato de não serem uniformes, são questionadas quanto ao caráter subjetivo que apresentam, enfocando: (1) realizações específicas num dado período, (2) relatório parcial descrevendo atividades realizadas num período (curto ou longo) da carreira acadêmica ou (3) memorial completo descrevendo todas as realizações relevantes da carreira acadêmica. Não obstante, muitas são inferências acerca da qualidade do ensino e da eficiência do professor no processo interativo ensino-aprendizagem.

            No caso da avaliação feita por estudantes, dois tipos de informação podem ser extraídos dos procedimentos avaliativos. Primeiro, a avaliação somativa (aditiva), que visa tomada de decisão administrativa sobre aumentos salariais, promoções, efetivação no cargo e mesmo incumbências de ensino, identificando diferenças na qualidade entre docentes, bem como, se tais diferenças são baseadas em dados plenamente confiáveis. Segundo, a avaliação formativa, em que os dados coletados são usados para melhorar, e enriquecer, as atividades de ensino e instrução. Com o melhoramento da didática, e eficiência docente, decisões sobre promoção, ou efetivação, são afetadas, mas, preservando-se, antes, a intenção primária de desenvolvimento do docente.

            Sendo muitas as razões alegadas para se avaliar o ensino, algumas das mais relevantes podem ser consideradas da seguinte forma: (1) Comprovar a excelência do ensino para promoção ou efetivação. Avaliações podem servir como indicadores do valor e da validade do que está sendo feito e ensinado, espelhando, indiretamente, a qualidade do ensino; (2) Diagnosticar potencialidades e fraquezas. Avaliações de estudantes são vistas como componentes importantes no desenvolvimento acadêmico, possibilitando enriquecer tanto a qualidade do ensino quanto da aprendizagem; (3) Melhorar a qualidade da disciplina e do ensino. Descobrir “como” estudantes vivenciam seu ambiente de aprendizagem é o primeiro passo para melhorar tal ambiente. Disciplina e delineamento do conteúdo, estratégias de avaliação, disponibilidade de recursos didáticos/ensino, integração entre disciplinas, e conteúdos integrados a um amplo programa de estudo, são componentes válidos do ambiente de aprendizagem para avaliação, refinamento e melhoramento do mesmo; (4) Engajar ativamente estudantes no processo de ensino-aprendizagem. Avaliações discentes permitem comunicação entre estudantes e professor, envolvendo ambos no processo de aprendizagem, o que eleva o nível de instrução, e estimulando instituições a fortalecerem seus valores, revendo seus objetivos e metas.

            Continuando: (5) Fornecimento de evidências para um exame da qualidade institucional. Avaliações discentes sistemáticas fornecem informações particularizadas sobre instrutores e disciplinas, permitindo seleção de disciplinas e professores, bem como, encorajamento e melhoramento institucionais, elevando chances de excelência, reconhecimento e valorização do ensino; (6) Investigação das dificuldades discentes. Resultados obtidos em avaliação da qualidade do ensino podem indicar contextos, situações e modos nos quais tais dificuldades aparecem, sugerindo correções de rotas e de prumo para facilitar o processo de aprendizagem; (7) Satisfação profissional. Resultados de avaliações discentes da qualidade do ensino podem servir de base para decisões administrativas, aumentando a probabilidade de que a qualidade do mesmo seja reconhecida e valorizada, bem como, que bons professores possam ser efetivados e (8) Avaliações discentes sobre a qualidade do ensino podem ser úteis para monitorar inovações no mesmo. Usar tecnologias educacionais que promovam melhor ganho no processo ensino-aprendizagem é fundamental para elevar a qualidade do ensino.

            Assim orientado, o processo de avaliação discente pode fornecer um número considerável de instrumentos (escalas, questionários, inventários) capazes de mensurar as variáveis consideradas relevantes para um bom ensino: Estruturação e organização docente do material a ser utilizado, coerência e clareza nas explicações, ações motivacionais e interação positiva entre professores e alunos, entre outros, são dimensões resultantes da análise fatorial desses instrumentos. Usualmente, implicam que a excelência do ensino é um constructo que se apresenta multifacetado e, por conseqüência, qualquer processo de avaliação que a considere, deve capturar suas múltiplas dimensões.

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