É papel do governo fazer o cidadão feliz?

É papel do governo fazer o cidadão feliz?

     Medidas subjetivas de bem-estar são importantes porque capturam tanto as experiências quanto as avaliações das pessoas, bem como, por não se limitarem a avaliações de aspectos da vida que, usualmente, são observáveis pelos outros.  Do mesmo modo, reações subjetivas de pessoas a eventos são também relevantes para as políticas públicas por afetarem os comportamentos futuros dos cidadãos. De fato, pessoas satisfeitas com seu trabalho são mais prováveis de neles permanecer; do mesmo modo que pessoas insatisfeitas com seus conjugues são mais prováveis de deixá-los.  Ademais, há evidências que sentimentos sobre qualidade de vida, incluindo julgamentos da satisfação com esta, também motivam vasta variedade de comportamentos decisivos. Logo, entendendo como reações subjetivas afetam comportamentos, dirigentes políticos podem usar informação sobre estas reações e os fatores que as afetam para ajudar a orientar as sociedades em busca de futuros desejáveis.

 

     Uma vantagem das medidas subjetivas é que elas podem ser avaliadas usando amostras representativas de populações tomadas num todo. Isto, de acordo com os preceitos de um governo democrático, permite dar pesos iguais a ricos e pobres, jovens e velhos, com ninguém dizendo que aquilo é melhor para os outros. Além disso, como bem-estar é uma avaliação global da qualidade de vida, suas medidas refletem uma ponderação integrativa de como as várias circunstâncias sociais interagem com cultura e valores para influenciarem qualidade de vida.

 

     As medidas subjetivas também têm outra vantagem, pois, fornecem métrica comum que pode ser usada para comparar os resultados em vários domínios. Avaliações bastante amplas que são, podem ser usadas para derivar valores comparáveis para consequências diferentes. Por exemplo, dirigentes podem enfrentar negociações de decidir se promovem avanços na saúde ou encorajam crescimento nas artes, ou quando políticas específicas requerem melhorar segurança contra custos crescentes. Um prefeito municipal pode se deparar com a decisão de gastar mais recursos em parques ou em transporte coletivo. Embora medidas de bem-estar subjetivo não possam fornecer respostas absolutas para todas estas questões importantes, elas podem fornecer informação sobre efeitos relativos das melhorias em cada domínio, e esta informação será relevante quando comparando as alternativas.

 

     Na realidade, medidas de bem-estar subjetivo, apropriadamente aferidas, podem ajudar líderes e cidadãos a fazerem melhores decisões. Há literatura científica indicando que embora muitos políticos não valorizem o bem-estar subjetivo como um fim por si mesmo, medidas de bem-estar podem ser usadas para tomar melhores decisões no domínio econômico.  Por exemplo, medidas de bem-estar podem ajudar a sociedade a valorizar externalidades da atividade econômica. Produção e troca de bens e serviços podem afetar a qualidade de vida para aqueles não diretamente envolvidos na transação.

      Análises usando medidas de bem-estar subjetivo podem agregar valores a estes eventos externos, podendo ser usadas para avaliar a importância de algumas externalidades identificáveis, bem como, outros aspectos não econômicos da vida. Escalas de bem-estar podem ser usadas para avaliar impacto de circunstâncias, tais como, poluição do ar e congestão do tráfego que influenciam a qualidade de vida. Por exemplo, em Ribeirão Preto poder-se-ia comparar efeitos sobre a qualidade de vida de algumas externalidades identificáveis, como níveis de ruído das aeronaves com efeitos da renda sobre a satisfação com a vida. É possível, em algumas circunstâncias, estimar os valores das externalidades em termos de mudanças equivalentes na renda, assim fornecendo um modo de avaliar sua importância relativa.

 

     Muitos outros fatores que influenciam a qualidade de vida são avaliados pelo mercado econômico em termos de custo, Por exemplo, características da sociedade, tais como, segurança, poluição do ar, obediência às leis e acidentes de tráfego, atendimento à saúde, são prováveis de influenciar a qualidade de vida das pessoas e das sociedades. Por esta razão, os políticos não podem facilmente computar análises de custo-benefício quando lidam com políticas públicas pertinentes a estes bens públicos.  Por exemplo, em Ribeirão Preto, o prejuízo causado na qualidade de vida pelo ruído das aeronaves poderia ser avaliado examinando tanto a experiência subjetiva daqueles que vivem exatamente na rota das aeronaves quanto perguntando a estas pessoas o quanto elas desejariam pagar para ter efeitos do ruído eliminados.

 

     As medidas de bem-estar subjetivo também podem ser usadas para avaliar e melhorar serviços e bem públicos. Muitos destes serviços e bens públicos têm significativos efeitos sobre a satisfação com a vida, além dos efeitos que fluem através de canais econômicos. Por exemplo, investimentos comunitários, tais como, melhorias na iluminação pública e nas ruas, centros comunitários e sociais, serviços de saúde, programas de educação básica e sistemas de transporte coletivo, são todos considerados afetar a qualidade de vida dos cidadãos.  A eficiência dos delineamentos e a disponibilidade destes serviços e bens públicos podem ser avaliadas usando indicadores de bem-estar subjetivo. Especialmente, bem-estar pode ser mensurado em comunidades que diferem em características de interesse, com diferentes comunidades podendo ser comparadas. Tais avaliações são importantes para administradores que enfrentam decisões difíceis sobre quais ações priorizar e em quais investir. Por exemplo, quanto de espaço público em parques torna-se  necessário para cessar ganhos de bem-estar? Em resumo, medidas de bem-estar fornecem um sistemático e, talvez, mais confiável método de alocar recursos públicos.

 

     Similarmente, medidas subjetivas podem ser úteis na determinação de como melhorar bens públicos, serviços, condições de trabalho e a qualidade das comunidades. Também, estas medidas podem ser usadas para orientar decisões em pequenas organizações. Num mundo em que há crescente competição por trabalhadores qualificados, clientes e gastos turísticos, medidas subjetivas podem ser extremamente úteis em orientar os líderes. Por exemplo, administradores querem atrair e reter os trabalhadores mais brilhantes e produtivos. Tais administradores podem usar medidas de bem-estar para determinar como diferentes seções de uma empresa variam em termos de satisfação dos trabalhadores. Tal informação podendo também ser usada para determinar que fatores estão associados com estas diferenças na satisfação e quais podem ajudar a identificar um programa de ação para melhorar o bem-estar. Tentativas para melhorar produtividade e reduzir rotatividade, bem como, para manter e aumentar a satisfação do trabalhador podem ter visíveis benefícios econômicos para a empresa.

 

     Assim considerando, medidas sistemáticas de bem-estar subjetivo podem dar aos líderes comunitários informação sobre ações e intervenções mais desejáveis ao município, região e bairros. Tais medidas podem ajudar os dirigentes a tomarem decisões mais eficientes em arenas variando desde economia e saúde à previdência.  Por tudo isso, políticas públicas baseadas em indicadores de bem-estar subjetivo podem ser adotadas visando atender os mais variados segmentos sociais da comunidade.

 

 

 

 

 

 

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