Educação e crenças religiosas

Educação e crenças religiosas

            Há evidências de que as medidas de religiosidade são negativamente relacionadas com inteligência. De fato, após a publicação do livro “Deus, um delírio”, de Dawkins, houve um ressuscitar de estudos sobre a relação entre inteligência e religiosidade. Dois desses estudos fizeram uso de grandes amostras em nível agregado, demonstrando uma relação negativa entre escores de inteligência nacional com escores de inteligência nacional média.

            Embora o efeito da inteligência sobre religiosidade seja bem estabelecido, há evidência conflitante sobre o processo subjacente a esse efeito e, em particular, o papel da educação nesse processo. A hipótese mais plausível é que educação media, parcial ou integralmente, o efeito da inteligência sobre a religiosidade, ou seja, que pessoas inteligentes são menos religiosas porque obtém mais educação. A razão para este possível processo mediador é mais do que claro: inteligência tem um forte efeito sobre o desempenho educacional e, por sua vez, educação fornece às pessoas oportunidades para estas buscarem alternativas racionais ao dogma religioso.

            Entretanto, o papel da educação, neste processo, não tem sido Ito muito claro, pois, há estudos revelando certa inconsistência em relação à ideia de que educação media o efeito negativo da inteligência sobre religiosidade. Na verdade, esses estudos sugerem que educação reduz o efeito líquido negativo da inteligência sobre religiosidade porque, em geral, pessoas mais inteligentes obtém mais educação.

            Assim considerando, se a vivência religiosa realmente modera o efeito da educação sobre a religiosidade, é provável que, desde que inteligência tenha um forte efeito positivo sobre educação, o efeito observado da inteligência sobre religiosidade também dependerá da vivência religiosa: será mais negativo quando a vivência religiosa for mais fraca do que quando ela for forte.

            Com o propósito de resolver esta interação complexa entre inteligência, educação e religiosidade, estudo publicado na revista Intelligence (41: 2013) manipulou e correlacionou escores de religiosidade, vivência religiosa, inteligência, educação, idade e sexo dos participantes e etnia, encontrando como resultado que educação não media o efeito da inteligência sobre religiosidade. Porém, os dados não deixam de sugerir que educação tem um efeito positivo sobre religiosidade quando a vivência religiosa é forte e um efeito negativo quando a mesma é fraca. Além disso, desde que inteligência tem um efeito positivo sobre educação, o efeito negativo da inteligência sobre religiosidade é mais forte quando a vivência religiosa é elevada do que quando ela é fraca.

            No global, os resultados atestam claramente o seguinte: para aqueles originados de ambientes fortemente religiosos, educação tem um efeito positivo sobre a religiosidade, o qual conduz a um efeito indireto positivo da inteligência, mesmo embora o efeito direto da inteligência tenha sido negativo. Por outro lado, educação tem um efeito negativo para aqueles oriundos de ambientes seculares. Como resultado, inteligência, para estas pessoas, não tem apenas um efeito direto negativo, mas, também, um direito indireto negativo, mediado pela educação.

            Logo, o papel de influência, ou mediação, da educação, ou da inteligência, sobre a religiosidade depende, em muito, do background religioso ou da vivência religiosa da população investigada.

 

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