Parceiro(a) romântico(a) e percepção de dor
Estágios iniciais de
relação afetiva, de modo geral, apresentam euforia, bem-estar subjetivo e
preocupação com o(a) companheiro(a). Estudos envolvendo neuroimagens revelaram
que tais sentimentos associam-se à ativações neurais de sistemas de recompensa
e de regiões de processamento afetivo no cérebro, destacando-se no controle da
dor em humanos, dado que, pesquisa básica com animais revelou ativação
farmacológica do sistema de recompensa, com substancial possibilidade de redução
de dor. De modo análogo, observar imagens de um(a) companheiro(a) romântico(a)
poderia estar associado à ativações neuronais nos centros de processamento de
recompensa.
Por meio de ressonância magnética funcional (fMRI) do
cérebro humano, pesquisadores investigaram substratos fisiológicos da analgesia
produzida pela observação de imagens de um(a) parceiro(a) afetivo(a), em
participantes masculinos e femininos, estudantes, entre 19-21 anos de idade, nos
primeiros 9 meses de uma relação romântica. Inicialmente, estes responderam uma
escala de nove pontos, com quinze itens, que buscava identificar a intensidade
do que sentiam um pelo outro. Em seguida, no tomógrafo, desempenharam 3
diferentes tarefas: (1ª) exposta a imagem de um conhecido, deveriam observá-la
e pensar sobre tal pessoa; (2ª) exposta a imagem do(a) parceiro(a)
romântico(a), deveriam observá-la e pensar sobre o(a) mesmo(a) e (3ª) exposta
uma imagem de distração, deveriam completar tarefa de associação de palavras, a
qual, em estudos anteriores, com fMRI, mostrara-se eficaz na redução de
percepção de dor. Nesta, o alto grau de atenção, a ausência de movimentos e de
componento emocional eram fundamentais.
Cada uma destas 3 tarefas sendo desempenhada em períodos
de nenhuma dor, dor moderada e dor intensa, bem como, com o participante
estimando a dor percebida através de uma escala analógica-visual projetada, na
qual 0=nenhuma dor e 10=pior dor imaginável. Os resultados revelaram que as
tarefas de distração e a envolvendo a imagem do(a) parceiro(a) romântico(a)
reduziram, significativamente, a percepção de dor, mas, importante: apenas esta
última foi associada à ativação de sistemas de recompensa. Em outras palavras,
processos neurais associados com analgesia induzida pela recompensa são
distintos daqueles associados com analgesia pela distração.
Em síntese, os resultados sugerem que a ativação dos
sistemas neurais de recompensa, via formas não-farmacológicas, podem reduzir a
percepção de dor.