Em qual andar você está?

Em qual andar você está?

A evolução dos tempos obriga os empresários a serem mais dinâmicos, eficazes e produtivos, além de saberem lidar com a inevitável necessidade de delegação de poder, fator fundamental para o crescimento.

Permita-me criar uma metáfora em que vou comparar o modelo de gestão, ou o campo de visão da empresa, com um edifício e seus vários andares.

Tal parábola foi desenvolvida para facilitar o entendimento dos meus alunos e, felizmente, o resultado foi atingido, expandindo-se para fóruns empresariais e treinamentos de desenvolvimento gerencial:

Um sujeito que está no primeiro andar do prédio. Ao olhar pela janela, consegue ver com certa nitidez o fusca vermelho estacionado em frente, podendo enxergar o estofamento do veículo, as placas, além da pessoa ao lado, que veste determinada roupa, sapatos e até o relógio.. Porém, ao olhar em frente ele se depara com o outro edifício, restringindo seu campo de visão (nitidez clara e horizonte restrito).

Já o ocupante do décimo andar, ao olhar pela janela, continua vendo um fusca vermelho, mas já não consegue identificar o estofamento, as placas. Ainda enxerga uma pessoa ao lado, mas sem condições de descrever detalhes. Esse mesmo sujeito ao olhar em frente, segue com a visão bloqueada pelo edifício em frente, porém ao olhar de lado, já consegue ter uma amplitude um pouco maior (nitidez menor, horizonte um pouco mais amplo).

E assim, seguimos pelo vigésimo e trigésimo andar e as características se mantém. Até chegarmos ao quadragésimo andar.

O ilustre ocupante do quadragésimo andar, ao se aproximar da janela e olhar para baixo, já não consegue identificar se o veículo, supostamente vermelho é um fusca, devido a infinidade de veículos em seu campo de visão, e muito menos o seu interior ou as placas. Quanto ao sujeito ao lado do automóvel, também não consegue vê-lo, pois igualmente muitas pessoas se acumulam em seu campo de visão.

Quando olha em frente, o privilegiado elemento tem um horizonte gigantesco a sua frente em todas as direções (Nitidez reduzida, horizonte quase infinito).

Muito bem, se compararmos esse edifício com uma empresa, e os andares como organograma ou hierarquia, teríamos o assistente ou auxiliar no primeiro andar. Já no décimo poderia ser o chefe de departamento.  Subindo para o vigésimo, o gerente, no trigésimo o diretor e, finalmente no quadragésimo, o Presidente.

É muito comum, principalmente nas empresas familiares, o patrono que viu tudo começar e conhece cada detalhe das operações, ter uma ligação emocional extrema com o negócio e não conseguir se desapegar das rotinas. Ele sente que precisa estar presente mesmo nas atividades primárias.

Tal comportamento, além de não permitir o desenvolvimento do seu quadro de funcionários por castrar suas iniciativas, acaba criando uma necessidade da presença do dono nas rotinas, pois o modelo aplicado não exige que seus funcionários tenham atitudes de gestão, apenas de execução, o que propicia um conforto do quadro à custa do desgaste do patrono.

Uma empresa como esta poderá até crescer, mas nunca vai se desenvolver.

Voltando ao nosso edifício, em que na pratica, na medida em que a nitidez fica menor, o horizonte vai se expandindo.

Também como resultado de observações, não é raro encontrar empresários que do alto do seu quadragésimo andar, descem de escadas até o primeiro andar para conferir se na caixa de parafusos do almoxarifado existem 98 ou 100 unidades, retornando em seguida pela escadaria até o topo do edifício.

O tempo perdido para tal obsessão compromete um precioso período de visão do horizonte, de enxergar a empresa em seus próximos 5 ou 10 anos.

O bom administrador é aquele que enxerga com os olhos dos outros. Aprender com os próprios erros é muito romântico, mas com os erros dos outros é mais rápido, eficaz e produtivo.

Se o patrono quer saber o número da placa do fusca, deve ligar para o primeiro andar e pedir que lhe façam a leitura. Então, estará vendo as placas com os olhos do assistente do primeiro andar.

Manter-se como empresa familiar é perfeitamente possível e, por várias vezes já provou o seu sucesso, desde que se desenvolva um processo de profissionalização.

Manter-se como empresa familiar é perfeitamente possível, desde que você saiba em que andar precisa ficar e que as ações estejam voltadas para a profissionalização da gestão

José Rita Moreira
Sócio-diretor
BLB Brasil Auditores e Consultores

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