Jogos Vorazes e uma nova perspectiva

Jogos Vorazes e uma nova perspectiva

Quando se trata de filmes de grande alcance e orçamento, estes são visto com certo desdém por aqueles que se julgam “cults”, alternativos e descolados. Pudera, pois de fato, quando se analisa em larga escala tudo o que envolve uma produção dessa alçada, há muito o que se desdenhar. No entanto, temos que tentarmos sempre ser dialéticos e multilaterais. Ou seja, dialéticos por tentarmos enxergar as contradições na premissa colocada ali naquele produto audiovisual em questão e multilaterais ao tentarmos buscar todos os fatores determinantes e indissociáveis da obra, tanto no seu desenvolvimento quanto na sua forma finalizada que nos é “entregue”. Vale lembrar, que não se pretende aqui convencer que devemos “cultuar” produções de grande apelo comercial e nem de qualquer outra coisa, apenas abrir espaço para debate e reflexão sobre determinadas crenças e falsas divisões que se costuma fazer sobre filmes de mercado e filmes alternativos, pois, em última instância, todo filme é de mercado, ou melhor, de algum nicho de mercado.  Intende-se também apontar contradições em filmes que aparentam apresentar uma crítica quando esta já está em contradição com o próprio propósito do filme.

Façamo-nos claro através do filme aqui em questão: em Jogos Vorazes – A Esperança parte 2 dá-se continuidade e desfecho à série que coloca em questão o domínio da capital em relação a seus distritos. Algo que pode-se relacionar, na vida real, com o centro – como centro fictício que detém os recursos e o poder de influência sobre as decisões do todo – e as periferias das grandes cidades que são forçosamente colocadas sob uma lógica quase inquebrável imposta verticalmente sobre suas vidas. Essa influência ocorre nos diversos âmbitos e escalas, sendo na vida cotidiana e trabalho diário, no transporte e não menos no lazer, na cultura e nos desejos mais profundos. Sendo o desejo maior e central aquele “simples” de ser IGUAL ao outro que esbanja abundância em tudo e que realmente deveria ser (ou ter sido há muito tempo) concretizado em uma igualdade básica e inerente da relação entre Seres potencialmente IGUAIS.

A “riqueza” em se assistir a um filme desses, conforme apontado acima, se daria em enxergar que, apesar de desvelar uma lógica de domínio que existe sim no mundo em que vivemos, isto se sucede de maneira em que a “denúncia” é transmitida através de um mecanismo muito similar àquele que está sendo denunciado. Ou seja, Jogos Vorazes  é bastante representativo como um canal próprio de influências incitadas verticalmente, ou seja, daqueles que são detentores dos meios à grande maioria que absorve o produto e o consome como qualquer outra mercadoria colocada verticalmente para a grande massa. Ou seja, assim como todo produto cultural está passivo e sob a lógica industrial da cultura, Jogos Vorazes não deixa de estar submetido à um funcionamento que em muito é análogo ao funcionamento de domínio exercido pela coerciva Capital colocada no filme, ainda que em traços e mecanismos muito mais sutis e imperceptíveis.  Contudo, podemos sempre retirar a reflexão positiva diante de tais indagações. No caso, se aquilo que nos é colocado no filme de fato traz à luz reflexões que demonstram novas perspectivas de perceber os processos que nos circundam, por que não admitirmos, num espectro maior e mais totalizante, que seu uso pode ser progressista para encararmos os modelos de coerção aos quais estamos sujeitos? Buscando então, formas práticas de transpô-los quando internamente nos resolvemos a respeito de um tema colocado.

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