Jurassic World: O mundo dos dinossauros e da natureza subestimada

Jurassic World: O mundo dos dinossauros e da natureza subestimada

 (Este é um artigo escrito por mim quando do lançamento do filme nos cinemas e que agora me pareceu pertinente devido às atrocidades acontecidas em Mariana - MG )

Novamente, uma atualização de um clássico das bilheterias. Por que não reinvestir naquilo que se comprovou ser um sucesso de investimento no passado, dando apenas uma rejuvenescida na fórmula para adequá-la ao presente, forjando um aspecto de novidade?  Jurassic World é isso, traz de volta todos os elementos que deram forma ao clássico dos anos 90 (Jurassic Park, 1993) e reinsere-os na conjuntura atual – ainda que superficialmente, pois o que eminentemente nos insere no tempo de hoje é o avanço tecnológico e eletrônico em detrimento de fatos históricos ou questões latentes de nosso tempo. Não obstante, o grande pilar que sustentava o filme de então permanece intacto: a ideia de que o homem, principalmente desde o advento da modernidade, sente-se soberano perante a natureza e detentor do controle desta e de seu percurso.

Os efeitos especiais são de fato impressionantes, assim como eram também em 1993 em relação à época. E os elementos citados acima dão movimento ao filme: o mocinho Indiana Jones, a pesquisadora arrogante, as crianças “cobaias” e, óbvio, as feras pré-históricas transportadas através dos milhões de anos: os dinossauros.  A maneira como abordam o desenvolvimento tecnocientífico que possibilita a “re-existência” dos bichos é tratada com a mesma grandiosidade também.

 O debate em torno do homem sendo um co-criador da vida e modificador da existência terrestre também retorna, assim como as consequências desta prepotência exacerbada. Algumas personagens questionam o excêntrico bilionário criador do parque, indagando-o quanto a segurança e a margem de erro da estrutura do local. Aqui, a noção de que o homem pensa ter a natureza sob seu jugo é evidenciada; de que o homem tem o controle de tudo, podendo modificar genes, transferir e combiná-los sem que houvesse amanhã. E não é que, aqui, o filme consegue estabelecer contato com o mundo real?  O que fazem as indústrias de produtos agrícolas e sementes se não subjugar a natureza? Visando maior produção e o alto lucro subsequente, temos sistemas de plantio e produção de alimentos se apropriando dos ciclos naturais de plantação. Vemos um verdadeiro abuso de nossa terra e, o que é mais agravante (apesar de tantos serem os agravantes), tem nesse abuso um fim apenas: ter mais produtos, tóxicos, para um consumo impróprio do ser humano.

A quantidade de toxinas – isso mesmo, toxinas – que somos obrigados a ingerir em praticamente TODOS os produtos disponíveis nos mercados é incalculável. As análises de composição dos alimentos comprovam o tanto de veneno que comemos muitas vezes sem saber e isso, a longo prazo, pode ser devastador. E é aí que nos reencontramos com as experiências genéticas contidas em Jurassic Park que, em um sentido figurado, pode muito bem representar a devastação que as grandes empresas estão causando tanto no meio ambiente quanto no ser humano. Algo que, se não tomarmos consciência e se não voltarmos a retribuir o verdadeiro amor que recebemos do planeta que estamos, através de uma agricultura consciente, poderemos sentir a força e ferocidade de milhões de anos ignorados por muitos humanos hoje em dia.

O filme, portanto, atualiza uma questão já colocada em 1993 e que, tanto lá quanto cá, não faz essa relação direta quanto ao rumo que a intervenção humana à natureza nos tem colocado; mas o aponta, como pra quem está atento a enxergar e não se perder apenas em meio aos imponentes dinossauros retratados no filme. Pois, se trata de um filme de entretenimento que tem como finalidade entreter, apenas. Mas que, assim como tudo que nos circunda, induz olhares atentos a refletir e meditar quanto às humildes ações que podemos tomar hoje, agora, para respeitarmos mais o mundo que vivemos e à nossa própria existência.

Compartilhar: