Mad Max: Estrada da Fúria – A Era da Mulher e da Água

Mad Max: Estrada da Fúria – A Era da Mulher e da Água

Neste relançamento de uma franquia já antiga e cultuada, a premissa se mantém: a terra se encontra numa era pós-nuclear e apocalíptica em que povos se enfrentam como nunca por petróleo e agora também pela água, estes mais escassos do que nunca.

Um líder bastante grotesco e sanguinário, Immortan Joe, é quem detém a principal fonte de água e a disponibiliza conforme seu sadismo permite. Além de possuir os meios que fornecem água, Joe é também quem “administra” a natalidade local, escravizando esposas e amas fornecedoras de leite no que parece simbolizar a dominância patriarcal sobre o corpo e os direitos da mulher.

Em meio às questões acima citadas encontra-se o justiceiro louco Max (Tom Hardy) que, após ser capturado pelo exército de Immortan Joe, passa a servir como “bolsa de sangue” para um dos soldados desidratados do nefasto líder. O chamado de Max se dá quando Furiosa (Charlize Theron), uma das esposas escravas, foge com todas as outras futuras mães daquela sociedade e, ao cruzar o destino do protagonista, dá início a uma relação de prova de confiança através de interesses distintos que se completam.

A tal estrada da fúria, que dá subtítulo ao filme, é a que os protagonistas percorrem para cumprirem seus objetivos. A maneira que a percorrem, no entanto, não é o foco aqui; e sim a alegoria que se constrói em relação às intenções dos personagens, além da maneira em que a questão da falta d’água, principalmente, é colocada.

O que Furiosa e as outras mães buscam na jornada, é a emancipação do jugo do patriarcalismo. Elas tinham seus corpos e ideais consignados pelo governante e não poderiam ali, sob o comando dele, exercer suas potencialidades e liberdades. Entretanto, pode-se dizer que a maneira na qual grande parte das mulheres vive hoje, não se distancia da imagética do filme: mulheres que trabalham o triplo dos homens, em funções que são julgadas concernentes a elas e deliberadas sem que se possa ser questionadas; mulheres que não têm o direito de dividir as funções domésticas com seus parceiros para que possam desenvolver suas capacidades profissionais, artísticas e espirituais; não têm tempo nem liberdade para se conectarem consigo mesmas e despertarem os seres que ali se encontram esquecidos e longe das liberdades que lhe deveriam pertencer. As condições que Immortan Joe as colocam, objetos procriadores de soldados e funcionários, as distanciam da beleza e do divino que é fornecer e nutrir a vida, e daquilo tudo que compreende ser Mãe.

A questão da água, por sua vez, é bastante condizente à crise hídrica que vivenciamos recentemente e voltaremos a vivenciar caso não se imprima, de uma vez por todas em nossas consciências, a noção e dimensão da grandeza que é a existência da água e o igualmente proporcional valor que devemos dar a este elemento essencial à vida. A crise hídrica de SP foi um avanço de consciência generalizado para que déssemos importância à água. E fomos obrigados a dar, milhões de pessoas, através do sofrimento que é a falta d’água, o devido valor a esta fonte de vida e desenvolvedora primordial da existência na Terra. Assim como se mostra no filme, quando Joe abre as fontes de água para a população poder ter um breve contato com ela, o próprio ditador anuncia: “Não viciem na água!” Mostrando a relação que se pode construir com tal elemento dependendo do estado de consciência daqueles que tem acesso, ou não, a ela.

De maneira geral, o novo filme da saga Mad Max é, portanto, uma atualização das obras anteriores onde se atualiza, também, as questões geográficas – e não menos as políticas, especialmente quanto à questão da mulher – e o faz usando todo o aparato tecnológico disponível nos dias de hoje, com efeitos especiais bastante bem realizados (ainda que, na minha opinião, voltados demais à violência ) e uma fotografia de encher os olhos.

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