7 de julho
São Paulo, 7 de julho de 1990.
Júlio descia a velha Rua 12, em Pirituba.
O rapaz magro, alto. Bem magro mesmo. Andava tropeçando pelas pernas e apreçado.
Ele trazia embaixo dos braços um envelope pardo. Ali estava o resultado de um exame.
Júlio suspeitava que havia contraído HIV.
Ele culpava os excessos da vida.
Enquanto passava em frente a uma barbearia, viu o filho do velho Pannuccio, o barbeiro, na porta gritando: Não para aqui não. Sai daqui. Não te quero por perto. Vai embora logo.
O homem na gritava para Júlio, não.
Era um carro funerário parado no trânsito.
A cena fez Júlio acelerar os passos. Queria chegar em casa rápido. Queria ler o resultado, embora só tivesse topado saber se estava doente no conforto dos braços da mãe Edith.
Abriu o pequeno portão.
Caminhou até a cozinha, onde estava a mãe.
Júlio deu um beijo no rosto da mulher. Colocou o envelope na mesa. Foi para o quarto. Admirou a capa do vinil do Cazuza “Burguesia”. Resolveu colocá-lo e ouvir.
O rapaz deitou na cama.
Olhou para a janela. Viu a luz brilhante e clara da manhã quase tarde entrando com poder. Então, uma borboleta negra entrou. Um suspiro. Para ele, o símbolo da morte.
Foi a cozinha ler a condenação de morte.
A mãe disse: “Cazuza morreu”.
Abriu o envelope, conformou-se. Lembrou o ídolo que acabará de partir que dizia para nos conformarmos. Pois a vida é “bonita e breve, como borboletas, que só vivem 24 horas”.