Chatô Soprano

Chatô Soprano

Assis Chateaubriand é o Tony Soprano brasileiro. Bom, pelo menos foi isso que senti assistindo Chatô – O Rei do Brasil, de Guilherme Fontes. A construção do filme foi bem interessante, principalmente por não ter uma cronologia, é uma história que percorre vários momentos de Chatô, sem datação. Isso reforça o tão espetacular que é o maior brasileiro de todos.

A atuação de Marco Ricca é bem surpreendente – lá quando o trailer saiu, em meados de agosto, percebi que ele abusava de um sotaque bem forçado, e achei que iria estragar a película -,o sotaque de Chatô não é um incomodo, como ocorre na maioria das produções nacionais retratando nordestinos – ou personagens gringos – que aplicam uma técnica muito sintética.

A relação que faço com Tony Soprano é a seguinte: são personagens nada santos, que abusam do poder político e financeiro, mas que não têm medo de ir para o pau quando necessário. Ambos são anti-herois, que têm o sangue fervendo – é a presença latina, pois enquanto o estadounidense é o retrato do ítalo-americano, o brasileiro é o brasileiro índio, nordestino, europeu, brasileiro.

Eu não sou muito fã de filmes biográficos. Acho eles muito presos ao tempo. Quando assisti Madame Satã (Karim Aïnouz, 2002), me surpreendi pelo fato do diretor ter colocado na tela apenas um período da vida da personagem, fazendo com que o espectador se identifique com a história e perceba os sentimentos com menos brutalidade.

E Guilherme Fontes acertou a mão no roteiro, ao criar um programa de televisão – o filho mais sublime de Chatô – para contar a rica história de Assis Chateaubriand. Além disso, os delírios que retratam o coma que o pioneiro da televisão brasileiro sofreu no fim da vida novamente se aproximam dos delírios que Tony Soprano teve em alguns episódios da série da HBO – devido aos problemas do gangster com a depressão.

Quem esperou muito tempo para ver a obra ficar pronta não deve ter se decepcionado. É uma história muito bem contada, são atuações muito boas, seja de Ricca, Andrea Beltrão, Gabriel Braga Nunes ou Paulo Betti – bem melhor que Toni Ramos como Getúlio Vargas – e tem o selo Francis Ford Coppola. Só isso.

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