A ironia de Dylan

A ironia de Dylan

O destino, Douglas Adams, Jerry Seinfeld, a turma do Monty Python e tantos outros gênios da comédia sempre presaram pela ironia. É ir lá e tirar uma com a cara do antagonista dizendo o que ele quer ouvir, mesmo que o sentido que se queira dar seja o contrário.

Sempre é mais legal quando a “vítima” entende que você está provocando ela. Assim ela pode partir para discussão ou apenas abaixa a orelha e fica quieta.

Bob Dylan, em sua solitária performance artística, sempre abusou desta antítese. Já que ironia é uma ferramenta para se contar a verdade, e Dylan é o trovador da música popular no MUNDO.

Tanto que em All Along The Watchtower, ironicamente lançada exatos 25 anos antes do nascimento deste que vos escreve - no dia 22 de novembro de 1968 -, Mr. Tambourine Man, lembra da conversa de um palhaço - coringa, bobo da corte, ou, seja lá o que for - com um ladrão, que conseguem compreender a estupidez das pessoas, retratada pela não reflexão e a falta de significado das coisas.

Ironicamente, All Along The Watchtower ficou mais famosa pelas mãos de Jimi Hendrix, e não na voz de Dylan. Foi um aviso não dito.

Percebe-se isso muito hoje em dia, quando qualquer pessoa se põe no direito de poder opinar sobre qualquer assunto, mesmo não tendo conhecimentos básicos sobre ele. Todo mundo quer botar a culpa de alguém no perfil do Facebook. Ficou muito fácil.

Isso desafia a máxima de Sócrates: “Sei, que nada sei”. Ponto.

Quando esta opinião facebookiana ganha contornos de discussão, invariavelmente alguma pessoa apela para ironia, esperando que aja uma resposta ou que a discursão acabe com um “you win” para ela. Não com “isso. Concordo com você”, ou simplesmente com um like aprovando o argumento.

Um exemplo é o antigo presidente dos Estados Unidos Ronald Reagan, que saudou Bruce Springsteen pela canção Born In USA, por interpretar que ela represente um hino dos norte-americanos, mesmo retratando o quanto a sociedade suga de cada um de nós.

A ignorância e o não dar sentido nas situações, indicado por Dylan, não enxerga se o ignorante é o homem mais poderoso do mundo ou o indivíduo mais humilde. Tudo isso por não entender uma ironia. Isso é irônico.

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