Não gosto de Renato Russo

Não gosto de Renato Russo

Quando eu tinha nove anos, na festa em comemoração do Dia dos Pais da escola, as professoras deram a sugestão que os alunos cantassem em homenagem a eles Pais e Filhos, do Legião Urbana. Foi a primeira vez que escutei aquela canção. Marcou-me muito. E lembro-me de ver meu pai emocionado quando escutou.

Já quando eu tinha 15, meus pais haviam acabado de se separar, e eu estava vivendo com minha mãe. Como costumava escutar a Kiss FM (rádio de São Paulo, que só toca rock’n’roll) enquanto preparava meu almoço antes de ir para escola, tocou Pais e Filhos. Chorei.

Graças a essa música, procurei conhecer mais da obra de Renato Russo. Descobri Eduardo e Mônica no mural da escola, Química, com meus colegas de turma cantando, e Veraneio Vascaína, na versão do Capital Inicial.

Quando cheguei na faculdade, conheci um dos meus melhores amigos, o Vinícius, que mais do que eu, adora Legião Urbana. Ele me emprestou a biografia Renato Russo – O filho da revolução, ótimo trabalho do jornalista Carlos Macedo. Podia ser uma descrição que reforçasse o meu gosto pelo artista.

Não foi. Um cantor que eu admirava pelas poesias ativistas, sim poesia, pois as letras são fantásticas, foi desmistificado. Porque eu não enxergava mais alguém que fazia aquilo por revolta contra as mazelas do país. Eu via um ego gigantesco, à lá Axl Rose.

Comecei sentir que Renato escrevia mais para aparecer, do que por ser realmente o que estava no coração. Pareceu algo sintético. Industrial. Perdeu a tal essência. O pacto entre autor e obra no trabalho do Filho da revolução, foi totalmente perdido para mim. Por isso, não gosto de Renato Russo.

Raimundos é meu exemplo

Quando Rodolfo Abrantes saiu dos Raimundos, em 2001, ele começou receber inúmeras críticas, porque estaria largando algo que sempre defendeu. Anos depois, em entrevista à Revista Rolling Stone, ele respondeu a elas, dizendo que não podia cantar mais as situações em que não acreditava. Isso me fez reforçar a ideia que o artista precisa de estar totalmente ligado ao seu trabalho, como já disse no texto anterior, sobre como a Janis Joplin agia.

 

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