‘O Seu Jorge foi vítima do imediatismo da web’, acredita Clemente Nascimento

‘O Seu Jorge foi vítima do imediatismo da web’, acredita Clemente Nascimento

Clemente Nascimento é um dos grandes roqueiros que o Brasil já conheceu. Precursor do punk nacional, no fim da década de 1970 e início dos anos 1980 com a banda Inocentes, ele hoje se divide como produtor musical, músico, que além do Inocentes, também é vocalista da banda brasiliense Plebe Rude.

Ele também atua como apresentador do programa Filhos da Pátria, na rádio Kiss FM, de São Paulo, no qual apresenta pérolas do rock and roll brasileiro, e mais, junto com o jornalista Gastão Moreira está na web com o programa Heavy Lero, que conta pontos da história do rock, e também é diretor e apresentador do Estúdio Show Livre, que há mais de 10 anos abre o espaço para todos os gêneros musicais, como novidades do mundo da música.

Na entrevista, exclusiva para o Garoto dos Clássicos, Clemente analisa a frase do cantor Seu Jorge, sobre o rock não ser para negros, e conta como é viver de rock no nosso País.

- Um assunto que fez barulho recentemente foi a fala do Seu Jorge de que o rock não foi feito para negros. Qual sua opinião?

Clemente Nascimento – Primeiro, o Seu Jorge foi vítima do imediatismo da web, pegaram apenas uma frase dele fora do contexto e malharam o Judas, mas lendo a matéria completa você vê que ele não está errado. O que ele fala é que o rock não chega na comunidade onde ele morava, e como a maioria da população negra vive nessas condições, ele não chega aos negros, o que era diferente nas décadas de 1970 e 1980, o rock foi fugindo da periferia e não é culpa do Seu Jorge, o que ele falou foi só uma constatação. Mas desde os anos 1960, o rock foi ficando cada vez mais branco, não só no Brasil. O Punk ainda é o estilo onde os negros estão mais presentes, não só no Brasil, como no exterior também.

- Você é um conhecedor do rock brasileiro, pois além de se apresentar, está fazendo o trabalho por trás, organizando, apresentando programas. O Kid Vinil faz um trabalho parecido. É assim que se vive de rock no Brasil?

Clemente Nascimento - Não, se vive de rock de várias maneiras. Essa é a que eu e o Kid encontramos. Não existe um mercado gigante, mas bandas como o Raimundos, CPM22, Matanza, Sepultura e etc, vivem apenas fazendo shows, mas o mercado encolheu bastante. Ainda tem essa nova geração Supercombo, Malta, bandas que tocam no rádio e tem um maior apelo comercial. Eu nunca tive grande apelo comercial.

- Eu sou nascido no ABC, e passei meus primeiros anos de infância por lá. A imagem que marcou essa época da minha vida é a periferia que solta a voz, e o rock ajudou muito nisso. Essa é a função do rock?

Clemente Nascimento - Cara, cada um tem o rock que lhe convém. É por isso que existem tantos estilos. Para mim é exatamente isso que você falou, mas tem gente que curte rock de arena, emo, sei lá. E tudo isso é rock. Não dá pra falar que isso é rock e esse outro não é, sacou?

- O fato por estarmos em uma situação econômica mais confortável do que há 30 anos, fez o rock perder força?

Clemente Nascimento - A questão toda não é econômica, e sim cultural. Hoje se tem acesso a instrumentos e equipamentos importados, é muito mais fácil e barato gravar um disco com qualidade mesmo sendo independente, mas falta mercado, falta cultura de se curtir bandas novas, faltam bares, festivais sérios, espaço na grande mídia e por aí vai.

- Em Ribeirão Preto, os artistas reclamam muito de falta de espaço para tocar. No âmbito geral o que você acha? É problema de falta de bares e casas ou de organização dos grupos?

Clemente Nascimento - - É um pouco de cada, faltam lugares e as bandas não se organizam (risos).

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