NÃO SOU MÃE

NÃO SOU MÃE

PARABÉNS PARA AS MÃES PELO SEU DIA, QUE SÃO TODOS

Não sou mãe, mas, se o  fosse, estenderia asas para aquecer meus filhotes nas longas noites de frio. Viraria garfo para destruir a sua fome, em braços para confortá-los no desespero e agarrá-los na vitória..

Não posso ser mãe, mas, se pudesse, seria também boca, para beijar minhas crias, mesmo quando erram, mas se arrependem, e cobertor para acalentá-los nas noites de febre e delírio, mas também nos delírios, em dias de festa. Seria punho para comemorar suas vitórias, para brigar com eles contra adversários imbatíveis. Seria beijo para virar amor em momentos de solidão, em instantes de deslumbramento, em momentos de prazer.

Não imagino como é ser mãe, mas, se imaginasse, teria de me sentir ventre, raiz, semente, geratriz de gerações, flor no pântano, socorro no desespero, mesmo tendo vaticinado, sem sucesso, a possibilidade de que daria errado, porém o filho não quis ouvir: "Ah! mãe, não enche o saco!". E depois "Desculpe, cê tinha razão" ou "Tá doendo!".

Não seria capaz de ser mãe, mas, se fosse, teria de carregar na barriga, sorrindo de contentamento, o DNA da promessa... promessa da perpetuação da família, da minha espécie. Não saberia carregar enjôos misturados com satifação, o medo e o desejo da concepção. Não conseguiria ouvir e decifrar choros nas madrugadas, durante os dias, durante a vida.


Nasci homem, por isso não sei o que é carregar na seiva, que corre nas veias, um amor incondicional à prova de tempestades, reveses, esquecimento, abandono e até desprezo. Não sei o que é doar um pedaço de mim com fé no coração, sorriso nos lábios e certeza na mente de que, mesmo tendo feito tudo, ainda achar que poderia ter feito muito mais.

Ser mãe é muito mais que educar, é muito mais que mentir para salvar, é muito mais que cantar para deslumbrar, é muito mais que segurar a mão para resgatar a cria do abismo e aconchegá-la no colo, afagar seus cabelos, como se braços fossem tentáculos, galhos, natureza.


Qual mãe não é tudo isso? Qual matriz não é muito mais? Mãe é o esteio da sociedade. Ela ensina os homens. Ela carrega os homens. Se há um deus, deve ser mulher. Só as mulheres geram. Não é à toa que as palavras mais importantes são femininas, por exemplo, Natureza.

A um dia dedicado às mulheres,  no mês de maio, a essa maternidade tão discriminada, que não tem carteira de trabalho, nem salário, mas que todo mundo procura a todo momento por tudo e para tudo. Alguém poderia dizer: "Mundo é palavra masculina". Uma mulher é um mundo, faz nascer como a terra. E a "terra" é feminina.

O maior presente que você pode dar à sua mãe é existir. Não seja hipócrita de lhe dar de presente uma geladeira, uma televisão, uma máquina de lavar roupa, como se ela fosse apenas um objeto dentro da casa, como se fosse coisa. Não é, e casa de mãe também não. Não desse jeito idiota. Casa de mãe não se assemelha a lugar nenhum. É o lugar para onde sempre se pode voltar. Chamá-la de "porto seguro", é usar uma metáfora já há muito desgastada, porém não há outro jeito. Não vou inventar nada que seja mais que isso. Não há.

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