BOM BRASIL À FRANCESA

BOM BRASIL À FRANCESA

Bom Brasil para você!!! Pelo menos, no que lhe for possível...Como não sei o momento exato em que você está lendo esse texto, se é dia, se é noite, se é tarde (será que já é???), “bom Brasil” é o que de mais preciso que posso lhe desejar de agora em diante. Acredite, eu e você temos um grande motivo para nos desejarmos “bom Brasil”.  E, sabe o que é melhor? Nosso motivo não tem relação com Bolsa Família ou bolsa da Louis Vuitton, sendo a última mais garantida para aqueles que tiveram a oportunidade de viajar de avião (algo que parece ter se tornado referência de qualidade social) e, pelo menos, pousado na Vinte Cinco de Março. Não!!!! Nosso motivo é mais real, não eleitoreiro e oferece as tais “portas de saída” (claro que não há garantias que as portas estarão abertas, mesmo que com a luz de emergência queimando nossas retinas). Nosso motivo também é mais claro e compreensível do que os argumentos jurados por meio de tanto gaguejo político televisionado, que muitas vezes parecem gerir não o Brasil, mas algo surreal e megalomaníaco, como um bloco político econômico formado pela a ilha de Lost e o País das Maravilhas. Se você está achando estranhas minhas palavras, pode por um sorriso no rosto, sem que precise esperar qualquer antidepressivo prescrito por profissional de quaisquer programas “Mais do Mesmo”. Nosso motivo é mais empolgante do que as prosas encantadas, proferidas por militantes partidários, como se fossem musiquinhas de cursinho para passar no vestibular do Palácio do Planalto. Dúvida? O melhor de tudo é que tal motivo se relaciona às várias situações cotidianas que não estão, nesse texto, ordenadas por grau de importância. Afinal, não quero correr o risco dessa ordenação porque não há mais como avaliar grau de importância, num contexto no qual abalos e desmoronamentos, de todas as naturezas, são equiparados aos suaves balanceios dos bares nacionais, dignos de dar inveja aos malandros que se esbaldam no samba do crioulo morto (porque a doideira já o trucidou à tempos). O motivo??? Simplesmente, a sabedoria pós-eleitoral que pôde ser adquirida pelo cidadão brasileiro. Vamos às constatações dessa sabedoria adquirida...

Agora, possivelmente, sabemos por que o bullying, infelizmente, é prática recorrente em inúmeras escolas brasileiras, prejudicando incontáveis crianças e jovens, sem tantas soluções eficazes. Ora, se nós, adultos, validamos deboches acusatórios em diálogos políticos, os quais, idealmente, deveriam ser espelhos de dialética, centradas e estimuladoras de ponderação produtiva, porque estranharíamos o Bullying? Por pura lógica, agora podemos entender porque, muitas vezes, esse desrespeito é considerado, apenas, “traquinagem infantil”. Também ficamos sabendo que as torcidas organizadas de futebol não têm mais a exclusividade dos comportamentos, por vezes, violentos e agressivos, ocorridos nas defesas fanáticas e alienadas aos seus times. Agora existe a “concorrência acalorada e agressiva” das várias militâncias políticas, que em algum grau, influenciarão na definição de leis. Se as mesmas pensam que tais comportamentos ululantes são adequados, chegando, inclusive, a exaltá-los, talvez as organizadas de futebol possam se sentir “musas inspiradoras às avessas”, porém sem bundas, porque as bundas mais desejadas serão as nossas. Ficamos mais sábios também ao atestarmos a veracidade de alguns ditados populares, pois, após tantas “inverdades” serem repetidas à exaustão, formaram-se, independentemente de fatos escancararem o contrário, “novas verdades”, praticamente, dogmáticas. E quanto amém!!! Nesse culto político, questionamentos viraram audácia e, até, insultos. Reaprendemos a prática da discriminação de pessoas por classes, praticamente, desconsiderando-as no que a constituição brasileira preconiza como mais expressivo, ou seja, a condição de igualdade entre cidadãos! Aprendemos também um “novo significado” para o conceito de justiça, relacionando-o, desde já, às noções e atitudes revanchistas. O toma lá dá cá virou expressão e mentalidade típica brasileira. Aprendemos que o “ter” compensa a falência do “ser”. Aprendemos que dolo e franqueza não são mais antônimos, atrofiando nossa vergonha e libertando nossos carrascos para nos conduzir ao imponente mausoléu moral. Entendemos que as garantias são tão efêmeras quanto às águas saciadoras da sede. Águas que já faltam!!! Mas, perenes são as águas que escorrem em nossos rostos quando somos obrigados a encarar o que insistimos em ignorar. Nos tornamos bidus, ao aprendermos novas habilidades de escolha, no momento em que consideramos possível definirmos uma opção, entre várias outras, mesmo quando são omitidas informações sobre todas , o que fizeram e fazem. Sobre o que farão, entregamos de joelhos, porém, não necessariamente à um símbolo divino. Em clima circense, pensamos ter aprendido o que faz um parlamentar, sem fazermos a menor ideia do que fizemos ou fazemos a nós mesmos quando o botão verde é apertado. E, usando narizes vermelhos, mas que crescem a cada segundo, aprendemos que a mentira sobre uma tal cura, sem haver qualquer doença, seria libertadora. E é...Pois tal mentira deixa livre entre nós o ranço e  o medo. Enquanto isso, a escravidão dos sentidos do corpo e da insensibilidade da razão nos aprisiona diariamente. Prisão que, no quadriênio seguinte, ansiamos gozar do benefício de progressão de pena. Do regime fechado para mentes abertas.

“Considero o conhecimento de si mesmo como uma fonte de preocupações, de inquietações e de tormentos. Tenho me frequentado o menos possível.” Por essa frase do escritor francês Anatole France, podemos começar a considerar a hipótese de que nós, brasileiros, temos, realmente, bom motivo para comemorar. Afinal, por não nos visitarmos e, consequentemente, nos perdermos, parece seguirmos os mesmos passos do escritor citado, mesmo que e principalmente por não percebermos que deixamos pegadas de lama e sangue pelo trajeto da História. Mas, no final, sempre damos sorrisos banguelas na direção de um flash em meio à multidão que grita.  

Compartilhar: