A cobra, agora, é VIP. De camarote, no paraíso, nos pega em sucessivos flagrantes!

A cobra, agora, é VIP. De camarote, no paraíso, nos pega em sucessivos flagrantes!

             “Comprovação de um ato”. Essa é a definição de flagrante. Flagrantes chocantes foram notícias na última semana. Segunda – feira (1), mulher de 38 anos, portadora da síndrome conhecida por “Ossos de Cristal”, precisou se arrastar por quinze degraus para embarcar em avião no aeroporto de Foz do Iguaçu, pois a companhia aérea não possuía o equipamento especial necessário para o embarque adequado da cidadã.  Terça –feira (2), o flagrante de uma pequena menina de, apenas, 5 anos, fotografada se banhando em um bueiro no centro da capital fluminense. Quinta – feira (4), estimulados por “mala negra”, o flagrante de deputados e senadores aprovando a alteração da Lei de Diretrizes Orçamentárias, cuja essência desobrigou o governo a cumprir a meta fiscal...Ufa!!! Visões do Inferno!! Embora flagrantes não sejam definidos e relacionados, necessariamente, às ocorrências negativas, seriam fatos como esses consequências do que poderíamos, talvez, chamar de “flagrante negativo original”??? Ou seja, tudo isso seria proveniente do fato de assumirmos a identidade de Adões e Evas que, por meio de nossas (in)consciências profanas, comprometemos, de forma masoquista, insistente e burra o fruto de nossa existência, com cobras nos flagrando, cinicamente, risonhas?  Se sim, haverá um grande problema... Diferentemente do pecado de mesma natureza, não há, para o termo recém cunhado nesse texto, qualquer sacramento de salvação. Portanto, estaríamos todos submetidos à condenação e sofrimentos eternos em infernos de idiotia moral e comportamental. E não é o que parece?

                Não é perecer em um inferno a situação vivida pela garotinha? Contudo, tentando achar algum prazer que pudesse lhe restar na água suja, a menininha, em sua porção de inocência, valorizava mais o frescor imundo do que considerava o risco de adoecimento que a água poderia representar. Ela demonstrou que, possivelmente, tenhamos que tentar encontrar vantagens no inferno, ressignificando aquilo que pode nos matar. O diabo, a partir daquele bueiro, ganha características relativistas, inclusive, de promotor de alívio. A mulher que se arrastou, na pista de decolagem, ao defender sua cidadania comprovou que o inferno tem níveis diferentes, simbolizados por degraus em seu caso, confirmando a alegoria de Dante. O diabo não se encontrava em nenhum dos degraus vencidos pela “heroína brasileira”. É provável que estivesse sobrevoando ou administrando justamente o espaço, comumente, destinado aos anjos. Os sons das harpas pelos roncos das turbinas. Contudo, o cenário mais infernal ultrapassa um pouco quinhentas almas, com as mesmas perambulando por um espaço caótico de gritos, ranger de dentes, negociatas, empurrões e chaves de braço. Isso, sem mencionar os discursos inconfidentes, promissores em suas letras, mas, incongruentes e devastadores em suas práticas. A ponto de fazer com que sejam consideradas aceitáveis decisões que trucidam o bê a bá econômico, as quais, em prazo futuro, terão potencial de jogar a todos no caldeirão escaldante do desespero pelo endividamento e pela sobrevivência. Muitos assim não percebem porque, nesse momento, o que vale mesmo é curtir a “vibe” de prazer, proporcionada por medidas obscuras, provisórias ou não. Enfim, seja por representatividade ou ampla concorrência, na “casa do povo” o diabo nem se dá o trabalho de entrar.

                Santo Agostinho, no distante século V, combateu o “pelagianismo”, termo derivado de Pelágio (nenhuma relação com a jornalista famosa), nome esse de um monge britânico, o qual tinha como ideia principal a inexistência do pecado original, ou seja, da origem pecadora do Homem. Ainda segundo essa tese, o Homem, a partir de suas ações, poderia se salvar sem interferências divinas, as quais representariam, apenas, bons exemplos. Assim, em sua luta, Santo Agostinho refutava tal ideia, ao entender que um pecador não poderia salvar outro, precisando, portanto, de algo superior que os pudessem salvar. Bom, com tantos flagrantes pecaminosos, oriundos das mais diversas situações, Santo Agostinho ganha pontos sobre Pelágio. Afinal, disse um ex-diretor de empresa estatal, a qual insiste em não sair das manchetes policiais, que aceitou fazer delações para tornar sua alma um pouco mais pura, e que a corrupção a qual pode estar envolvido, assola o Brasil como um todo. Portanto, analogamente à fala de Santo Agostinho, como será possível redenção quando as mãos que poderiam se resgatar e auxiliar estão sujas de lama, petróleo, sangue, cal, etc...? Resquícios que corroboram a nova denominação, “flagrante negativo original”, não faltam.  Oremos e supliquemos, então, por alguma absolvição.

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