ESTRELAS GUIAS PARA MÁRIOS, MARIAS,...

ESTRELAS GUIAS PARA MÁRIOS, MARIAS,...

Mário Quintana, tomando a defesa da utopia, disse: “se as coisas são inatingíveis...ora! Não é motivo para não querê-las...Que tristes os caminhos, se não fora a presença distante das estrelas!”. Ousando interpretar Quintana, suas palavras tentaram provocar mínimo momento de reflexão sobre os fidedignos sonhos humanos, bem como sobre a coragem na decisão de cada um em percorrer seus traços, amparados apenas no prazer oriundo das construções e aperfeiçoamento de suas convicções e na esperança de viver esses sonhos ideais a partir de algum trecho de suas próprias histórias. Essa defesa poetizada ilustre foi e ainda é necessária, pois, no transcorrer de lágrimas e sorrisos, a utopia teve, no Brasil, sua missão renovadora golpeada e desviada. Múltiplos golpes desferidos por ceticismo ardiloso e conveniente, cujo intuito se traduz na manipulação destruidora para com tudo que possa significar inovação transformadora, como também conferiu e ainda determina conotação de devaneio inútil para a ferramenta filosófico-científica que deveria se constituir a utopia. No “pacote dos devaneios imprestáveis” (ainda, mediocremente, interpretado por muitos), foram jogados, inconsequentemente, conceitos fundamentais, entre eles, a honestidade. Contudo, não é analisado aqui se o brasileiro é honesto ou não. O ponto diz respeito à vontade, desejo, querer. Portanto, quem ainda quer, de fato, ser honesto?

            Considerando que, em alguns momentos, ser honesto significa assumir decisões e atitudes que não são convenientes a si mesmo, em prol do que é justo, questiona-se qual o grau de honestidade que o indivíduo nacional está disposto a ter e viver. Confúcio, pensador e filósofo chinês, cita três níveis possíveis e distintos de honestidade. O mais superficial (Li), é onde o sujeito realiza seus desejos sem deixar de ser sincero. Ops!!! Possivelmente já pode haver milhares de ruborizações brasileiras sinalizando dúvida. No segundo nível (Yi), onde o sujeito não executa suas vontades, mas, se concentra na reciprocidade (princípio moral de justiça), alguma parte do povo em questão pode titubear (estou sendo, demasiadamente, sutil?). O último e mais profundo nível (Ren) infere a necessidade do individuo em tratar aqueles que estão em nível inferior da escala social de maneira similar ao modo como gostaria de ser tratado por seus superiores. Ai, ai, ai!!! Afinal, em que nível o brasileiro quer aportar??? Lamentavelmente, são conhecidos fatos que o colocam em “nível bem abaixo do mar...da sensatez”. A tal ponto de incontáveis sucumbirem às altas das marés de bom senso e justiça, ainda que estejam agarrados aos seus pedantismos e engolindo sapos como se fossem menu de gastronomia requintada. Entretanto, pela lei de causa e efeito (pura Física), atitudes desonestas se revelam, no máximo, receita velha requentada, que levam a infecções e óbito social. Mesmo que os sapos só fiquem indigestos em médio ou longo prazo.   

            É importante a consideração de que inúmeras situações somente se estabelecem de modo multilateral. No caso da dualidade honestidade versus desonestidade, a multilateralidade também pode ser válida. Ou alguém duvida, por exemplo, que corruptores só existem pela cumplicidade interesseira e egoísta de corrompidos, como também, pela omissão e aceitação dos que são conscientes quanto à realização da corrupção? E seria utopia desejar que o elo dessa corrente maléfica se rompesse pelos “nãos” proferidos por quem a desonestidade tentadora foi ofertada? Ou essas negativas para com as tendências desonestas seriam interpretadas como excesso de “bom mocismo”, exageros de condutas socialmente funcionais, caretices de “Super-Homens”? Por isso mesmo, é também útil relembrar que o enfraquecimento do heroísmo fictício próprio do filho de “Krypton” não ocorreu por sua exposição à qualquer Kryptonita, mas, pela ridicularização de seus conceitos sobre caráter e justiça, os quais membros de velhas e novas gerações de humanos consideraram piegas o suficiente e, portanto, fora de lugar e cabíveis de ignorar. Traiçoeiramente, tenta-se justificar os absurdos, causadores e resultantes, da desonestidade como fatores necessários para sobrevivência em sociedades pautadas por competições derivadas de “processos de seleção inevitáveis”. Cinicamente, agentes corruptores e corrompidos recorrem, inclusive, à um darwinismo patológico para justificar suas condutas depreciadoras, pelo qual tais condutas são consideradas instrumentos de adaptação à sociedade contemporânea “tão injusta e difícil!!!” É o tal e desagregador “salve-se quem puder”. O que dizer de alguns exemplos como fraudes em vestibulares, desvios de dinheiro público e privado, traições pessoais e profissionais, desrespeito nos trânsitos, etc. Na insistência para suas teses funestas, rebaixam ao esquecimento proposital pessoas e atos que representam seus opostos, ou seja, que tentam, ainda que com equívocos próprios de seres humanos equilibrados e em evolução, o alçamento da sociedade por meio da transparência e autenticidade. Esses conscientes aprendizes da vida, invariavelmente, acreditam em palavras e ações que promovam entendimento e consenso, obviamente e principalmente, quando em meio à discordâncias previstas e esperadas quando se envolvem indivíduos de estruturas distintas em algum grau. E, quando ainda não chegam à consensos, põem em prática uma habilidade ainda mais valorosa: altruísmo. Sim, a capacidade de privilegiar o bem do outro em “detrimento” do seu próprio bem imediato, não é somente louvável, mas, essencialmente, atitude inteligente típica de quando cultivada visão de vida não restrita “aos próximos cinco minutos de existência individual”. Essa é a visão mais natural quando a vida é, devidamente, respeitada, estimada e pensada dentro de uma perspectiva de tempo, cujo imediatismo é inaplicável por ser mesquinho e perigoso.

            De fato, na vida, o querer é fundamental. Desse modo, pergunta-se se querer é poder. Porém, talvez a pergunta fique melhor formulada e, consequentemente, mais realista quanto à sua resposta, quando a pensamos sem parâmetros inadequados como a perspectiva e expectativa rígidas e limitadas de tempo, das quais, frequentemente, resultam as desistências dos que hesitam quando de frente às modificações mais laboriosas e significativas. Sem tais parâmetros negativos, a resposta é sim e confere ao poder humano referido, característica análoga com o brilho das estrelas: infinitude. 

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