JUVENTUDE, NAVEGAR PODE SER IMPRECISO. VIVER DEVE SÊ-LO AINDA MAIS!!!

JUVENTUDE, NAVEGAR PODE SER IMPRECISO. VIVER DEVE SÊ-LO AINDA MAIS!!!

Vou lhes falar ao pé do ouvido: arranquem de nós esse "calem-se!". Por onde vocês têm andado? Quais são seus mais frequentes pensamentos? O quê e com quem têm constantemente falado? A quem têm escutado? Quais são, verdadeiramente, seus desejos?  Eu gostaria muito de saber...Sim, vocês são vários e vastos, e na mesma proporção serão suas respostas. Sei disso. Mas, também me arrisco em considerar que existem pontos anímicos comuns, os quais influenciam sobremaneira seus olhos, mãos e pés. Tenho a pretensão de acreditar que alguns de seus movimentos ainda moldam diferentes espaços, tornando-os similares durante precisos momentos, tornando, esses últimos, sinônimos de singulares instantes que, por vezes, se definem atemporais.  No transpassar secular e milenar, sempre ressoaram cânticos de ousadia que transcenderam todo óbvio ultrapassado. Mas, o que, então, agora apreende o espírito? Perceber que antes havia deleite da vida, mas hoje pode se dar o ocaso das ideias, império do silêncio.

                Do início do século XIX, passando pelas décadas de dez, vinte, oitenta, noventa. As letras de Mietta Santiago, pelos pulsos de Alzira Soriano, nas análises biológicas de Berta Lutz, por meio do aprendizado de lições de Nísia Floresta, em nome da memória de Ângela Diniz, dentro das melodias de Rita Lee e Simone. Ícones de um novo pensamento de mulher, transgredindo as ordens de toda tirania machista. “Ban the bomb”!!! No final da década de sessenta “Hair” tomou a Broadway, ratificando a estimulação quanto ao questionamento, em massa, sobre valores militares e capitais como principais doutrinas de governo. Os hippies sugeriam paz e amor! Seulement la connaissance change le monde (Somente o conhecimento muda o mundo)... O século XV aponta para os primeiros indícios de movimentação estudantil, por alunos da Universidade de Paris, ao protestarem contra a possível perda de autonomia universitária e contra a submissão da universidade frente ao Parlamento.  E o adocicado aroma de Jasmim que contrastou com o cheiro da fumaça produzida pelo fogo da Primavera Árabe. Ali se estabeleceu o calor da indignação tunisiana contra a corrupção que desertificava o futuro. Quantos foram os movimentos de muitos durante a história mundial!!! Vários resultantes do atrevimento juvenil, principalmente quando considerada essa expressão de forma filosófica e não, necessariamente, cronológica. Entretanto, nos tempos atuais, inversamente proporcional à corrida estética pelo rejuvenescimento, a mente humana, que poderia manter-se jovem, vem cedendo lugar à uma mente envelhecida, estagnada, superada e, incontáveis vezes, até ignorante, recheada de frases prontas e não revisadas em suas viabilidades, e que acabam por se tornar corruptoras de conquistas anteriormente, comemoradas. Exemplos disso são claros e, diariamente, compartilhados nas redes sociais – na forma de imagens ou mensagens -, disseminados nas conversas de buteco, nas mesas familiares de almoço e jantar, nas canções, etc. Mas, ao mesmo tempo, ficam despercebidos devido às quatro tendências traiçoeiras: aparente inofensibilidade, aparente lógica, automatização social e graça. Qual o fundamento para essa afirmação? Em um dos exemplos que está sendo divulgado em rede social, que a princípio para tantos soa “engraçado”, há duas fotos, sendo a primeira de um gato assustado e a segunda de um cão triste ou que fora repreendido. A partir dessas duas imagens, é feita uma “brincadeira de analogia” com a relação marido/esposa, no que se refere às faturas de cartão de crédito. O gato assustado passa a representar o marido, “soberano provedor”, que acaba de descobrir o valor da fatura a ser paga por ele. Já o cão, por sua vez, passa a representar a esposa, devido ao seu olhar triste, medroso ou arrependido, ao esperar repreensão do “maridão” por sua “travessura de gastos financeiros excessivos” os quais geraram a fatura. Em poucas e mais claras palavras, tal imagem define, diretamente, uma condição de dependência moral e financeira feminina, bem como, estabelece inferioridade e infantilização pessoal da mulher por suposta irresponsabilidade e inconsequência. Afinal, um é o “gatão”. A outra é a “cachorra”. Qualquer semelhança com “bondes e suas músicas” não é mera coincidência. Outro exemplo é o ditado “a ocasião faz o ladrão”. É possível imaginar algo mais precipitado e preconceituoso do que o sentido desse infeliz ditado popular? Pois, é por crenças em absurdos como esse que são noticiados, em tom de espanto absoluto, casos em que a honestidade é aplicada, porém, vista como qualidade e não mais como característica obrigatória (como, de fato, deveria). Do mesmo jeito, tal crença é causa de constantes acusações sem quaisquer provas e injustiças da lei. Assim, uma novela consegue por milhões de cabeças, supresas,  para “tentar entender” como um sujeito pobre pode ser capaz de devolver o que foi roubado de outro alguém, principalmente, se o objeto roubado em questão tiver valor material exorbitante. Não!!! Não desejo, obviamente, que esse texto termine em clichês sobre conceitos de certo e errado. O propósito dessas linhas é cooperar para a promoção, explícita, de rejuvenescimento ideológico e conceitual. Para isso, não é necessária a busca fabulosa pela fonte da juventude. Somente é preciso resgatar em nossas psiquês o que é próprio do genuíno jovem: raciocínios contestadores sobre pensamentos, rigidamente, estabelecidos. Principalmente quando os mesmos estão distorcidos, porém, ainda socialmente influentes e alienadamente aceitos, pois ganham caráter de sutilezas e normalidade, exatamente porque estão reforçados por sorrisinhos ou pelos cálices dos calem-se. Portanto, para reativar e refinar todo processo de reinterpretação de princípios, basta que pensemos em cada palavra que proferimos de forma tão convicta, quanto, por vezes, cega, surda e muda. Burra!!!

                Não é apertando os botões de “confirma” que alteramos paradigmas e transformamos nossos destinos. Destinos são amplos demais para se restringirem aos parcos segundos nos quais são feitas opções tão enviesadas e limitadas. Provavelmente, o timão de mudanças mais íntimas e, consequentemente, de toda nação, é eficientemente assumido e capitaneado a partir do momento em que se deseja navegar por todo tipo de águas e marés, calmas ou revoltas, baixas ou altas, mas, especialmente, experimentando bússolas diversas que nos guiem para mundos ainda a serem descobertos, desbravados.

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