O QUE A EXPERIÊNCIA DIZ SOBRE A ANSIEDADE.

O QUE A EXPERIÊNCIA DIZ SOBRE A ANSIEDADE.

            O caráter, aparentemente, súbito é o primeiro motivo de terror, na medida em que tudo surge do nada. A partir daí, é iniciada a expectativa, mentalmente incapacitante, para a ocorrência de novos episódios. A disparada do coração alarma um possível infarto. A falta de ar angustia sugerindo asfixia. O suor frio dos pés e mãos incomodam. As borboletas batem asas agitadas no estômago, causando náuseas constrangedoras. E por fim, como fosse cereja passada de um bolo muito amargo, a sensação de morte e enlouquecimento eminentes dominam a cabeça. De passo em passo, todos desnorteados, o indivíduo segue para uma vida de ameaças e medos que povoam mais seu imaginário, do que seu mundo real, de oxigênio e luz.

         Os transtornos de ansiedade acometem 12% da população brasileira. São várias as abordagens científicas e não-científicas usadas para explicar o quadro de temor máximo. Fatores neuroquímicos, filosóficos, psicológicos, comportamentais, espirituais, etc. A partir da consideração de cada um desses fatores, procura-se determinar formas eficientes - e libertadoras - para não mais cair na mais torturante prisão de si mesmo. Contudo, independentemente da direção escolhida para seguir, a caminhada rumo ao bem estar nunca é fácil ou indolor. Principalmente quando é percebida a gênese do transtorno: o próprio indivíduo. Todos os fatores, anteriormente citados, convergem no íntimo da alma humana, de modo a ficar indubitável o caráter multifatorial da psicosituação, contudo, com tal diversificação de fatores fabricada pelo indivíduo acometido. Se observar, se questionar e se modificar não é fácil, tampouco simples, muito menos confortável. Requer, necessariamente, humildade - não o “coitadismo” - para assumir que determinada crença e, consequentes, pensamentos e ações não estão sendo funcionais, úteis ou, essencialmente, equilibrantes. Ser capaz de assumir essa realidade é admitir que o Eu praticado, muito escravizado e determinado pelo Eu idealizado, é divergente do Eu possível, do Eu real, do Eu humano e saudável. O Eu atuado nas ruas, não raramente, quer corresponder às expectativas de todas as ruas, ainda que as mesmas sejam antagônicas entre si e aos valores mais intrínsecos de quem insiste em admirar e desejar velhas e degradadas sarjetas, não percebendo que as mesmas passaram por maquiagens conceituais extremas que lhes conferiram cenário fabuloso, de cores enebriantes. Contudo, por um simples olhar interno do Eu, todas as cores se transformam em escuridão. A ausência de luz típica da teimosia. A ausência de luz própria do extremismo. A ausência de luz que somente o desconhecimento de si mais agudo pode ocasionar. Desse modo, o autoconhecimento, embasado por coragem e resiliência, é o calçado que aliviará as dores normais da caminhada da vida. Os tropeços no decorrer do trajeto são somente sinalizadores para breves ajustes de ritmo e habilidades. Ritmo que, verdadeiramente, deve ser aquele que permita a contemplação dos ventos que tudo balançam em cada um dos momentos.

               Não há inimigos na Ansiedade. Pois, como diz o ditado, “quem avisa amigo é”. E, ainda que o aviso seja causa de inicial aflição, é capaz de salvar corpos e mentes dos perigos e desencantos de seus próprios potentes e traiçoeiros venenos. Venenos contidos em apequenados frascos de ilusão. O viver a realidade é o início e, também, ponto final para toda libertação.

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