O QUE PODE SER INDIGESTO NO REVEILLON BRASILEIRO: PIZZA QUATRO QUEIJOS.

O QUE PODE SER INDIGESTO NO REVEILLON BRASILEIRO: PIZZA QUATRO QUEIJOS.

             Roquefort, Parmesão, Prato, Gorgonzola, Mussarela... São várias as opções de queijo, facilmente encontradas em quaisquer supermercados. Você, leitor, gosta de, ao menos, alguma dessas opções? Para sua atual sobrevivência e interesse escuso do Brasil, é bom que goste. Sem perceber ou mesmo saber, o queijo é o produto principal de inspiração para o padrão de comportamento estimulado no brasileiro. Não entendeu? Serei mais claro. Possivelmente, somos vistos como ratos. Certamente, nada glamourosos tal qual Mickey Mouse. Não...Talvez, no ponto máximo do status quo, algo análogo aos roedores de laboratório psicológico. Como consolo, consideremos que esses bichinhos são mais bonitinhos do que os roedores de esgoto...Isso importa ou consolou?

                Nos estudos sobre o comportamento em Psicologia, de acordo com a finalidade comportamental que se deseja, são empregados esquemas específicos. Quando há intenção de dar origem, mas, principalmente, fixar um tipo de comportamento na vida de um indivíduo, fala-se sobre esquema de reforçamento de comportamento. Essa “fixação” acontece devido ao fato do sujeito executor do comportamento ser “recompensado”, de alguma maneira, pós atitude esperada. Dentre os vários esquemas reforçadores possíveis, há o esquema chamado “intermitente”, aplicado quando se deseja manter respostas comportamentais já estabelecidas, porém, tornando-a resistente à extinção. Ou seja, o esquema intermitente não somente mantém um padrão de comportamento como o torna, cada vez, mais forte. Isso é devido, falando à grosso modo, ao fato de tal esquema oferecer recompensa para o comportamento do organismo de forma não contínua, mas de acordo com o número de ocorrências (fixas ou variáveis) do comportamento, ou, de acordo com intervalos de tempo (fixos ou variáveis). Para melhor entendimento, o indivíduo recebe sua recompensa depois de: um número de execuções comportamentais definido/ variável, ou, tempo definido/ variável. O fato é que o sujeito fica, em função da expectativa por recompensa, condicionado à um determinado comportamento. Ahhhh... O queijo está fazendo sentido agora? Vamos pensar na cultura comportamental brasileira. Por mais que se reclame, xingue ou ore, se está sempre impelido a manter um comportamento original, mesmo que pouco tenha de virtuoso e muito seja vicioso. Por quê? Porque de tempos em tempos, variáveis ou não, ou, após número definido ou indefinido de ações, o Sistema recompensa o brasileiro, o mantendo agindo quase que irracionalmente, à espera do “próximo pedaço de queijo”. Assim, o brasileiro, ansioso, vai levando a vida em sua gaiola experimental... Ops!!!! E não é que, de tantas grades nas janelas, a vida imitou o laboratório científico!!! E, para a alegria de muitos, os “queijos” costumam ser saborosos!!! Aquela promoção no empreguinho torturante às custas, não necessariamente de ilegalidades, mas, de imoralidades e, consequentemente, a chance em assumir o papel de torturador deixando a posição de torturado para outro; a relação sócio-política do brasileiro médio com seus representantes políticos oficiais, os quais, após muita indiferença com seu eleitorado no decorrer de seus mandatos, oferecem-lhe, quadrienalmente, um sorriso branquinho, um abraço engomado e infindável discurso ideológico, o qual a credibilidade não ultrapassa o barulhinho da urna eletrônica; aquele tapinha nas costas ou o grito de “uhhuu, me dei bem!!!” quando se consegue burlar leis ou regras sociais, depois de muito ter se sentido indignado quando estava na pele de quem fora desrespeitado; a feliz comemoração de “conquistas sociais” ainda que, a médio e longo prazo, possa se perceber que as mesmas ocorreram muito em função de desequilíbrios e agressões contra outras pessoas, em um processo que beira a legitimação de algo muito semelhante à segregacionismo de qualquer natureza. Enfim, exemplos esses e muitos outros mais nada novos no cotidiano nacional. Pelo contrário, de fato são sempre mais do mesmos, óbvios, na medida em que, de forma absurda e distorcida, o cidadão brasileiro parece já estar condicionado à aceitar se comportar arbitrariamente e indiscriminadamente, desde que sua “boca” consuma aquilo que tanto anseia.

                Sim, podemos!!! Desde que, primeiramente, queiramos. Ou melhor, não queiramos!!! Não queiramos, apenas, engolir “pedaços de queijos” ao aceitarmos, inúmeras vezes, o papel condicionado de ratinhos esfomeados, resultado da privação do muito que nos é, inadmissivelmente, negado ou, na melhor das hipóteses, muito raramente e pessimamente ofertado. Afinal, jamais podemos nos esquecer que nossa natureza não determina que devamos, quando com sede, tomar água em bebedouros conta-gotas, mas, em fontes límpidas e cristalinas, as quais merecemos ter acesso após, diariamente, desbravarmos nosso cotidiano e possibilidades. Aí sim, quem sabe, ao final e início de cada ano seremos mais dignos de, momentaneamente, substituirmos a água potável por Champagnes.                     

Compartilhar: