PACIENTE BRASIL. H.D: PSICOSE SÓCIO POLÍTICA

PACIENTE BRASIL. H.D: PSICOSE SÓCIO POLÍTICA

                Acreditando em sua perfeita saúde mental, proponho, a você leitor, um exercício mental... Se imagine trabalhando em uma empresa privada. Um dia, do ponto de vista financeiro, você resolve que deve ser mais privilegiado do que seu superior hierárquico vertical e, até mesmo, mais afortunado do que o próprio dono da empresa. Além disso, você decide que esse privilégio, pelo qual você está convicto ser merecedor, deve ser cumprido ainda que, para tal, outras necessidades sejam, nos mais diversificados graus, negligenciadas. Em, outras palavras, se essa empresa for um restaurante, poderão faltar os talheres, ingredientes, mesas ou cadeiras que, mesmo assim, você continua considerando normal sua vantagem financeira. Se essa empresa for uma escola, poderão faltar lousa, carteiras, merenda, etc, e você permanece pensando ser justificável seu ganho elevado. Se essa empresa for um hospital, poderá faltar algodão, gaze, leito, equipamentos, medicamentos, etc, mas, ainda sim, você esperneia por manter seus lucros pessoais estapafúrdios. E mesmo que seja considerada, analogamente, a característica constitucional de igualdade – em que ninguém é superior a ninguém – aplicada à estrutura hierárquica da empresa, ou seja, a existência, na mesma, da hierarquia horizontal em substituição da vertical, você ainda insiste na certeza de que deve ser mais privilegiado do que todos. E, de modo teimoso, ainda briga e grita por isso. Pois bem...Ao pensar nessas hipóteses, é “muito provável” que você perceba os absurdos nelas contidos. Mas, SUPRESA!!! Estamos, não somente vivendo, mas aceitando e, muito pior, achando normal cada um desses exemplos insanos, presentes em nossos cotidianos.

                Parece que nos tornamos submissos e, quem sabe, coniventes com os comportamentos sócio-políticos distorcidos no Brasil. Como???  Simples... Por meio de algumas de nossas características, circunstancialmente, mais inadequadas e bizarras, como a prostração, adoração, alienação, fanatismo, etc, mantemos e testemunhamos submissão e conivência, seja em nível municipal (cuidado com os buracos nas ruas, atente para os desperdícios de água causados por vazamentos públicos, se cuide durante caminhadas pelas calçadas sujas e mal cuidadas, tenha paciência nas filas hospitalares e pelas faltas de leitos, etc), em nível estadual (se proteja da dengue, engula a falta de planejamento hídrico, tenha seu aprendizado comprometido por falta de professores ou por profissionais mal estruturados, etc) e em nível federal (interrompa seus estudos universitários por falta de dinheiro público para financiamento, testemunhe seus impostos não sendo suficientes para suprir suas necessidades cidadãs, caminhe com medo por todo território nacional, drible o aumento inflacionário, veja seu dinheiro financiar mais benefícios supérfluos para parlamentares mesmo que em tempos de crise, etc). Percebeu??? E lembre-se que, em intervalos de quatro anos, muitos são os que vestem camisas com cores e emblemas específicos, para ajudar a eleger seus “legítimos” representantes e administradores. Representação legítima de fato??? Administração eficiente??? Será que, ao invés de discurso de cidadania, não estão sendo caracterizadas dúvidas sobre a sanidade mental popular ao defender aquelas cores e aqueles emblemas??? Pois os propósitos das siglas diversas não mais parecem convergir com o verdadeiro interesse (leia-se benefício) público. A não ser que o significado de público tenha sido modificado e agora diz respeito, somente, aos afins de cada amontoado de letras políticas. Ou está esse texto recheado de devaneios? Não é contraditório que, dentro dos limites da “pátria educadora”, a defesa sobre a melhoria das condições dos cidadãos seja baseada em números exclusivos sobre consumo – como o de pessoas que viajam de avião, os que adquirem celulares de última geração, os que compram sofisticados aparelhos eletrodomésticos, etc – e nada além e mais significativo (obviamente, a questão de uma “educação” mais acessível aos cidadãos fica em xeque, principalmente em função de notícias recentes)? Possivelmente contraditório, porque o maior consumo não significa, necessariamente, melhoria de mentalidade e/ou comportamento mais educado. Muitas vezes, ao contrário, pois famílias inteiras mergulham em dívidas pesadas ao se submeterem ao julgo de parcelas infinitas, não raramente mal analisadas. Na verdade, isso expressa falta de educação e, nesse exemplo, especificamente, educação financeira. Portanto, alardear as tais conquistas sociais pode ser comportamento impulsivo, mal intencionado e precipitado. É importante lembrar que, em cada passo, movimento e conquista, deve estar implícita a questão essencial: ao custo do quê? O mais irônico é a possibilidade de, ao ler esse texto, alguém declarar: quanto clichê argumentativo!!! Será mesmo??? Então, provavelmente, a mesma declaração sobre tais clichês pode ser aplicada ao blá blá blá que postula um tal desenvolvimento geral nacional, ocorrido ao custo do incerto e o certeiro desequilíbrio de contas. Como ônus adicional, inserido nesse contexto sócio-político alucinado, há o agravamento da patologia política brasileira, ao se fazer uso desse mitificado desenvolvimento como fator atenuante para as sérias atitudes, no mínimo, imorais, já admitidas, inclusive, por quem tanto antes negava ou dizia desconhecer.

                Será que “mentiras sinceras” ainda interessam mesmo aos brasileiros??? Se sim, lamentável é. Talvez o brasileiro já esteja conformado com abandono. Porém, fundamental relembrar que, devido a tal conformidade, não sobrarão ideologias coerentes e sensatas pelas quais viver, mas sim, absurdos diários aos quais se tenta, desesperadamente, sobreviver. “Maluco Beleza” continuará sendo, apenas, licença poética.                

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