PÁTRIA PROFESSORA: MALDITO GERUNDISMO VITAL PARA O BRASILEIRO (PARTE 2)

PÁTRIA PROFESSORA: MALDITO GERUNDISMO VITAL PARA O BRASILEIRO (PARTE 2)

                    Em outubro de 2007, o então governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, “demitiu” o gerúndio dos órgãos da administração pública, sob a alegação de que tal medida iria contribuir para maior eficiência das ações do poder público. Segundo sua visão, essa decisão eliminaria a tendência de esconder a ineficiência do setor por detrás do recurso gramatical em questão. Na época, análises foram feitas por diversos profissionais, dentre as quais destacaram-se a análise gramatical e a análise política. Pela primeira, o governador teria se equivocado, pois estava fazendo confusão entre o gerúndio – estrutura legítima da Língua Portuguesa – e o gerundismo – modo equivocado de expressão o qual pode significar falta de comprometimento com a ação que estiver pautada pela frase. Pela política, houve quem definiu a “demissão” como algo útil. Entretanto, é valido considerar que o gerundismo – o real alvo da demissão – não ficou “desempregado” por muito tempo no contexto da máquina política. Se é que em algum tempo da História assim ficou. Ao contrário, se manteve e mantém atuante e inaugurou um novo nepotismo, o gramatical, quando passou a viabilizar o emprego do que parecem ser “seus parentes de primeiro grau”: a conjugação dos verbos em primeira pessoa do singular ou plural, no tempo futuro. Eles não só batem ponto, diariamente, em todas as esferas da política brasileira, como são disfarces conhecidos e mal confeccionados, mas, lamentavelmente, muito tolerados, para as mentiras contadas em borbotões, sejam por caciques ou indiozinhos engravatados. Afinal, o gerundismo tem o poder de conferir, às mentiras e enganações, silhuetas de credibilidade? Caso exista o risco da resposta afirmativa, os fios de esperança se tratariam, na verdade, de cordas grossas para o enforcamento de toda uma nação?

                Em artigo publicado pelo ex-ministro da saúde no governo Sarney, Dr. Luiz Carlos Borges da Silveira, intitulado “Mentiras Políticas”, o médico/ professor/ empresário aborda, de forma breve, o uso generalizado e abusivo da mentira por políticos verde e amarelo, bem como suas consequências para a condução do país e para a credibilidade dos autores da mentira. Segundo o Dr. Luiz Carlos, o político que mente “imagina ser o povo ignorante e incapaz de perceber”. Ainda completa dizendo que a verdade não tarda em aparecer, aprofundando a crise de confiança do eleitor/cidadão no político mentiroso. Bom, o cenário atual dos poderes legislativo e executivo em todo território brasileiro, em seus três níveis – federal, estadual e municipal – pode, em algum grau, representar contra argumentação convincente em relação à opinião do autor do artigo referido. Afinal, como explicar, após tantos indícios de significativa força, a manutenção de suficiente credibilidade de inúmeros políticos, a ponto de justificar suas permanências em cargos eletivos? Tal como, se o povo é de fato capaz de perceber as mentiras ditas por seus eleitos, o que embasa a – no mínimo – inoperância popular em relação às abusivas mentiras ouvidas e aceitas sistematicamente? Seria ingenuidade? Seria fé irracional? Seria masoquismo? Se, segundo o ditado popular – com a concordância de Dr. Luiz Carlos –, a mentira tem pernas curtas (apequenando a dignidade e diminuindo a amplitude de visão de desenvolvimento e nação), é possível inferir que o brasileiro tem medo de altura, sendo a mesma viabilizada pela verdade - cujas pernas são longas e fortes? Por medo de se agigantar através da verdade, o Brasil abdica da chance de vislumbrar, de “posição e altura privilegiadas”, qualquer horizonte mais amplo, o qual impulsionaria, para cima, a eficiência administrativa pública e, consequentemente, a real e sustentável confiança e autoestima brasileira. Esse acontecimento hipotético também seria capaz de interromper a confusão feita, constantemente, por inúmeros compatriotas entre os significados das palavras confiança e arrogância. Até porque, como pressupõem áreas da ciência em saúde mental, autoconfiança é consciência de si. Desse modo, na autoconfiança não cabem estados alterados de consciência.

                "Estaremos resolvendo o problema em alguns dias..."Esse dizer não somente é indicativo de falácia, como é estimulador de agravamento da saúde funcional do Estado. Geralmente, significa “ministrar remédios em dosagem muito aquém do ideal recomendado, ou, até, negligenciar o fato de que os remédios ministrados são inadequados para a situação, mascarando a disfunção, aumentando, dramaticamente, potencial de letalidade”. De específico ponto de vista, o qual deveria ser da nação, não seria a tolerância com o gerundismo uma filosofia suicida, tanto para gramática correta quanto para alma e corpo brasileiros?                          

Compartilhar: