SE A VIDA É DE GADO, TENTA-SE SILENCIAR OS MUGIDOS.

SE A VIDA É DE GADO, TENTA-SE SILENCIAR OS MUGIDOS.

As fábulas infantis têm finalidade educacional que, segundo profissionais envolvidos, consiste em auxiliar na formação de valores e atitudes na criança. Nelas animais possuem habilidades, tipicamente, humanas, dentre as quais estão o tipo de raciocínio, a habilidade da fala, etc. Desse modo, já imaginou o quê, em uma perspectiva fabulosa, um cavalo falaria a quem o submetesse ao rígido controle de um cabresto? Ou, qual seria a argumentação de protesto desferida por um pássaro ao ser aprisionado em uma gaiola? E, ainda, que intensidade de queixas haveria nas palavras de um cachorro quando maltratado ou abandonado? Certamente, nessas três situações imaginárias ou outras mais, testemunharíamos verbalizações contundentes as quais expressariam, praticamente, as revoluções dos bichos (ainda que, a partir de suas habilidades reais, eventualmente, os mesmos já se demonstram, justamente, revoltados). Portanto, há o que esperar de diferente do e para o Homem quando, deliberadamente, por terceiros, tenta-se o silêncio de sua voz em discursos, a paralisação de suas mãos quando seguram canetas, ou, qualquer outro tipo de impedimento do exercício de sua livre expressão? Se animais, de algum modo, podem reagir quando postos em condições de submissão, seria um “faz de conta”, na verdade, a mínima aceitação do Homem quando se percebesse, também, subjugado.

                Somos mesmo “Charlie”? Sabemos que deveríamos... Assim como deveríamos ser, também, todos os que têm suas liberdades cerceadas por arrogância e tirania. Mas, lamentavelmente, raramente identificamos essas “múltiplas personalidades” em nós mesmos. Quando muito, ao assumirmos outra identidade, trata-se apenas a do mero espectador, mais, especificamente, do telespectador que, querendo somente descansar o esqueleto e espairecer as ideias com uma bebida, reclama de ter que assistir tanta tragédia, defendendo, como se fosse gratuita, uma tal “visão light da vida”. Porém, claro, quando em uma esquina qualquer, seja qual for o período do dia ou da noite, forçosa e subitamente, somos arrancados do papel de telespectador e transformados em protagonistas da realidade mundana, tendemos a nos amedrontar, chiar e maldizer a todos que “nada fazem” para combater tamanho absurdo e violência. Esses absurdos, nada mais são, do que as imposições, legais ou ilegais, mas constantemente intrusivas, cada uma em sua proporção e dimensão, que inúmeros agentes do cotidiano nos fazem ou, pelo menos, “arriscam nos propor”. Imposições como, por exemplo, a “nova regra da cesariana”, Resolução Normativa 368, pela qual a regra será o parto normal, deixando a cesariana para casos específicos de situação médica, desconsiderando qualquer opção materna para tanto, bem como, aparentemente, pouco analisando se há ou não a estrutura adequada para execução do procedimento defendido. Obviamente, idealmente, caberia ao profissional médico a responsabilidade pelo total esclarecimento materno e pela posterior aprovação da decisão final tomada pela mãe ou família. Contudo, simplesmente, retirar da futura mãe qualquer poder de escolha foi a opção oficial, teoricamente, embasada pelo argumento de que a melhor saúde para todos deve ser mais importante do que qualquer direito de escolha. Será??? Outro exemplo de “proposta intrusiva” é a perpetuação e nefasta atuação do poder paralelo, muito em função da ineficácia dos “guardiões de nossos votos”. Isso quando e se os “guardiões de nossos votos” e o poder paralelo se confundem no mesmo significado. Outros casos de opressão filosófica são as constantes reportagens as quais, em algumas, os entrevistados devem ter suas faces omitidas por medo de retaliações (inclusive de autoridades constituídas quando responsáveis pelos problemas denunciados), e em outras, os indivíduos que deveriam ser entrevistados ameaçam e agridem àqueles que teriam o direito de obter informações sobre suas realidades, as quais ficam atravessadas e violadas por quem se negou a dar declarações.

                Pois é...Se estamos (outra vez) somente assistindo, na França, a defesa da expressão livre humana, aqui, provavelmente, continuamos com nossas televisões ligadas, por vezes, zapeando canais quando nos sentimos saturados e horrorizados de tantas manifestações e lutas por liberdade. Considerando a vida real, mas pensando nas fábulas, felicidade e liberdade indomável teria o boi se fosse consciente de sua força.

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