SEPARAÇÃO DE CORPOS: MAIS UM DIVÓRCIO ANUNCIADO.

SEPARAÇÃO DE CORPOS: MAIS UM DIVÓRCIO ANUNCIADO.

Fechem seus olhos e se deixem envolver pelas emoções contidas nas letras que compõem a canção “Dia de Casamento”, de Fernanda Brum: “É, acho que vou chorar. É, quando eu te olhar. É, um clipe em minha mente vai passar. É, valeu acreditar. É, suportar e esperar. Nosso amor será pra sempre...”. Agora, tentem manter seus olhos fechados e percebam os sentimentos dessas palavras, parte da música “In our prime”, da banda Black Keys: “A casa queimou, mas nada lá era meu mesmo". Ou, ainda, das palavras do vocalista da banda referida (Dan Auerbach), na música "Bullet in the brain": "Uma bala na cabeça. Prefiro isso a continuar assim". Como é notório, o distanciamento sentimental entre as letras musicais citadas é abissal, estando o sujeito da primeira música nadando de braçadas em mar de amor e rosas, e, pelas outras duas músicas, percebe-se o sujeito em estado crítico de angústia e dor, provenientes do ressentimento criado por traumáticas separações. Nos últimos cinco anos, segundo estatísticas oficiais, o número de divórcios no Brasil aumentou em 75%. Isso indica que, de cada dez casais que eram sorrisos um para o outro, pelo menos sete deles hoje, possivelmente, rangeram dentes mutuamente ou, no mínimo, molharam seus olhos por dúvidas e desconfortos emocionais. O fato é que, entre casais, a separação conjugal é algo possível. Em vários casos, inclusive, benéfica. Porém, em muitos outros, desestabiliza e deixa chagas cuja cicatrização não fica relativa ao tempo, mas, às mudanças de atitudes dos envolvidos, no que se refere à assimilação e elaboração adequada do ocorrido. Agora, o que pensar de “separação” de amigos, de pessoas, de cidadãos, principalmente, quando esse “drama de relações” não é oriundo de “desgaste natural”, presença ameaçadora de “um outro ou uma outra”, etc, mas, de simples intolerância e inconciliável opinião política? Nesses tempos eleitorais acirraram-se os processos de divórcios, de natureza político-ideológica, porém, em caráter conflituoso, onde não somente há discordância, mas, também, vontade explícita de invalidação da opinião alheia, especialmente com toques narcisistas e alfinetadas demagógicas. Nesse panorama, quais prognósticos políticos e sociais podem ser esperados, na medida em que transformações de atitudes egocêntricas em ações mais humanitárias são improváveis?

            Já foi dito, na História, que sonhos se tornam realidade quando são sonhados coletivamente. Então, o que acontece quando ressentimentos e revanchismos são estimulados na mesma dimensão coletiva? Não foram as filosofias totalitaristas resultados diretos dessas estimulações? E não!!! Não está sendo proposta aqui uma teoria conspiratória advinda das telas do Poverty Row Hollywoodiano yankee. Um blá blá blá de que fulano y ou grupo x seriam os ditadores, e os demais componentes da sociedade não passariam de pobres vítimas de ocasião. Piada!!! Na realidade, pode ser muito mais grave do que isso. A consciência coletiva parece estar mais inconsciente, desfalecendo nos braços da tirania. “Marvadas e marditas champagne proletária e pingaiada elitizada”!!! Em cada menosprezo, em cada ponto de exclamação exagerado, em cada tom exaltado, nas noções engessadas sobre dextras ou sinistras, pode germinar, exatamente, aquilo que o ser humano ofereceu, de mais cínico, à qualquer nação do mundo: involução. Ou há algo mais atrasado do que o discurso bolorento do unilateralismo político filosófico? Cadê o antialérgico para ser usado no combate às crises respiratórias, provocadas pelos gritos histéricos de idolatria às mensagens dos messias criados à pães de queijo, sururus, pastéis, etc? Não importa. Porque o povo come mesmo é muita pizza, acompanhada de refrigerante “cola”, afinal, no máximo haverá, apenas, algum agito! Nota-se, de uns tempos para cá, que o indisciplinado brasileiro ludibriou a lição de casa e, obviamente, errou quase todos os exercícios na hora h. Vai ficar para sempre de recuperação final. Mas, será que irá se recuperar? Agora é fácil entender porque o Brasil é sempre um país do futuro. Nunca do presente. Pois, raramente esteve ou está na “escola da vida” quando é feita a chamada. E essas recuperações são em muitas disciplinas. No português insiste em conjugar os verbos errar e acertar em apenas duas pessoas. O primeiro fica restrito às terceiras pessoas, do singular e/ou plural. Já o segundo, conjugado exclusivamente nas primeiras pessoas, também nas duas possibilidades de número. Em História tanto se preocupou em, meramente, decorar os momentos e fatos que não aprendeu a decifrar os ecos do passado e suas consequências funestas. Consequentemente, não tem condições de projetar qualquer caminho inovador. Mais uma razão que explica não fazer ideia de como planejar futuro...sustentável!!! Em Ciências, por exemplo, não tem muita noção de Zoologia, pois, frequentemente, entende o Homem, conforme seus interesses, de modos muito antagônicos em suas necessidades mais básicas e que são comuns a todos. Em Matemática a subtração foi aprendida como operação única e mais importante. Exceto, claro, quando a adição está unicamente relacionada a elementos similares em seus paradigmas. Portanto, o “canudo” que o brasileiro recebe tem mais relação com um instrumento improvisado para tentar beber água (acumulada em pocinhas formadas nas crateras dos asfaltos os quais, eventualmente, matam pessoas e deterioram os bens público e privado) do que com a gratificação acadêmica que o habilita a prestar serviços importantes ao funcionamento da sociedade, como, por exemplo, evitar a existência dos buracos que lhe tiram o chão...Percebe-se que não é mais o poço a maior preocupação nacional.

            Pensemos... O que poderiam ser sonhos, transformados em realidade pela força e intensidade de mãos dadas, se tornam pesadelos, anseios despedaçados em mil (mais precisamente 202 milhões) pelo egoísmo que leva um a um para lados diversos, não importando o quanto de oportunidades possam ser perdidas por essa convicta e, oficialmente, estimulada desorientação. O Estado, noivo de terno branco e ginga, nunca foi mesmo muito fiel à população, sua noiva, que insiste em seu gosto por trajes de luto. Após dizer sim aos galanteios do furtivo malandro, é constantemente abandonada debilitada e em prantos nos seus solos de núpcias. No final, a noiva cadáver ainda se contenta com sua vida seguindo em beijos nas criancinhas e bofetões no seu próprio rosto.  

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