STATUS: ÚNICO.

STATUS: ÚNICO.

                Caro leitor. Pegue sua carteira de identidade (RG) e observe, atentamente, a marca do seu dedão, impressa em uma das faces do documento. Evidentemente, essa é sua impressão digital. Única no mundo. Somente sua. Algo que, por meios naturais, não é passível de cópias. Regozije-se! Ela é uma das principais evidências de que só você pode ser você. Ninguém mais o pode, mesmo quando inúmeras tentativas, para o convencimento do contrário, possam ser feitas! Consequentemente, você pode fazer escolhas únicas, por motivos únicos, ainda que pareçam comuns a inúmeros indivíduos no mundo, ou, ao contrário, de tão únicas, aparentem ser escolhas descabidas e sem sentido, fora dos padrões esperados. Então, a partir dessa percepção, vem a exclamação: que maravilhoso ser humano!!! Porém, também vem a questão incômoda: a quem interessa a sensação de que perdemos a poderosa (porque pode tudo transformar) característica da individualidade? E, para essa questão, sobram evidências...

                Quantas vezes você já ouviu frases como: “Se tal situação fosse com você, você faria o mesmo...”, “Todo homem (ou mulher) faz tal coisa...”, “Todo partido tem tal atitude”, “Ninguém faria diferente disso...”, etc? Percebeu quantas tentativas ocorrem, diariamente, para jogar, todos, “no mesmo saco”? Se pensarmos a respeito das razões que levam as tentativas citadas, duas, provavelmente se destacam. A primeira é o interesse na massificação para que, acreditando nela, o Homem não acredite em algo sempre diferente. Assim, qualquer modificação se reduz à utopia barata. A segunda razão se constitui no alívio da culpa, ou no mínimo, para a irresponsabilidade individual nos variados momentos. Ou seja, preferir acreditar que todos teriam a mesma postura quando em certo contexto, supostamente, minimiza o peso prático, moral e emocional para o verdadeiro agente da ação em questão. Interpretar as ações como algo sempre generalizado para o grupo humano, como um todo, tem o efeito de diluição e eximição de responsabilidade para inúmeros alguns. Cômodo, não??? E o aspecto mais irônico e cínico desse comportamento interesseiro diz respeito, exatamente, à sua ocorrência. Ela se dá, muito mais frequentemente, nos indivíduos, contextualmente, mais suspeitos. Na verdade, esse fator é até lógico e previsível, pois, para indivíduos que estão ainda menos direcionados à edificante caráter e força, restam poucos recursos para convívio social saudável. Assim, o recurso restante mais comum e fundamental que os mesmos dispõem acaba sendo a definição do outro, a partir de si mesmos, no momento dos fatos mais significativos, sejam os mesmos positivos ou não. Entende-se, portanto, que nesse assunto em especial, a generalização é ainda mais perigosa, pois, se transforma em “auxílio nocivo e perverso” a quem busca, incondicionalmente, isenção após indistinta ação. Dizer que todos têm limitações não implica e, muito menos, confere validade à noção de que as limitações são as mesmas ou nos mesmos níveis para todos. Nunca pode ser negligenciado o argumento científico de que todo comportamento e característica do Homem têm raízes multifatoriais, aumentando, drasticamente, suas complexidades e possibilidades. Inclusive, é por essa afirmação que “rótulos” se tornam inviáveis e inaplicáveis. Desse modo, tendências até podem ser factuais. Mas, adivinhações exatas sobre o desfecho de comportamento do Homem é algo possível, somente, através de bisbilhotadas em bolas de cristal. Alguém tem, pelo menos, uma (que sempre funcione) no armário? Se não, que nem se tente entrar em armários de certezas generalizadas. De tão pequenos, escuros e abafados, eles podem sufocar e vitimar o esperto desavisado.

                Ah!!! Que o Homem jamais se esqueça da liberdade de ir e vir, principalmente, em suas ideias únicas. Liberdade essa que, por si só, já expressa ausência necessária de pacotões ideológicos massificados. Direita??? Esquerda??? Que tal ambidestro?         

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