Por que é tão difícil mudar o comportamento?

Por que é tão difícil mudar o comportamento?

 

            Muito se fala sobre comportamentos. Além de observáveis são facilmente identificados como adequados, inadequados, desejáveis ou indesejáveis.

            Que empresa ou líder não olha para os comportamentos das pessoas e de sua equipe? Uns podem até olhar, mas não enxergam a importância de investir tempo, espaço e outros recursos para desenvolver e aprofundar nas dinâmicas ocultas do comportamento.

            Aquilo que se vê é apenas a ponte do iceberg ou a última e mais superficial camada das questões humanas.

            Muitas empresas falam e discursam sobre a importância das pessoas, da cultura humanizada, mas são poucas que realmente cuidam e cultivam encontros de desenvolvimento e vivências para ampliar o repertório ou amadurecer os comportamentos de seus líderes, agentes multiplicadores e colaboradores. 

            Pesquisas sobre o comportamento da aprendizagem revelam que apenas 10% é absorvido quando se vê ou escuta e que 80% é absorvido quando experienciado ou vivenciado e 90% quando é ensinado à outros.

            O novo conhecimento, portanto, passa pela via da emoção. Ele precisa entrar no corpo todo para ser processado e internalizado. Se ficar só no mental ou racional ele se perde ou se distorce. É por isto que treinamentos que dizem que não pode fazer isto ou tem que fazer assim são tão ineficazes. É preciso ir além e mais profundo.

            Por isto é tão importante conhecer como as pessoas funcionam e aprendem. De forma simplista, o comportamento é acionado por uma emoção que é acionada por uma motivação ou necessidade e que é acionada por um pensamento e que é acionado por crenças ou programações mentais que são a fonte de todo o processo.

            De outra forma, são as crenças que precisam ser conhecidas, revistas e transformadas para mudar os comportamentos e os resultados. 

 

Como?

 

            Todo o processo de transformação e desenvolvimento passa pela mudança de mentalidade. Neurocientistas contribuíram muito para o entendimento deste processo quando nos revelou que a mente funciona por padrões, o que leva à repetição, generalização e defesa. Que por sua vez, implica em se fechar para o que é novo. 

            Não é só o medo que trava o processo que envolve desaprender para aprender um novo comportamento. A mente tem outros processos dificultadores que levam à escolha do mínimo esforço ou levam à certeza do conhecido. 

            Algumas vezes, estes processos são tão inconscientes que podem estar identificados com gerações passadas através de padrões sistêmicos herdados e seguidos com lealdade cega.

            A mente é semelhante a um software e funciona como um modelo mental complexo e único. Convidar a conhecê-la é um importante caminho para transformá-la.

            O desafio é escapar das armadilhas da mente que mente e que faz de tudo para não sair da zona de conforto. Inclusive te convencer da ilusão de que não é tão importante assim. 

            Quanto maior a força do drive racional de um indivíduo, maior sua visão racional, objetiva e pragmática da vida, de tudo e de todos. 

            O que o drive ou o padrão mental faz é deletar tudo aquilo que não faz sentido e focar naquilo que acredita ter mais significado. Por exemplo, se você perguntar como foi o evento da empresa para uma pessoa muito racional é comum ela dizer a quantidade de pessoas que participaram, os resultados finais ou os processos e informações mais importantes. Uma pessoa com um drive mais emocional ou humano vai focar mais nas conexões, emoções e impactos que as pessoas tiveram com o evento. 

            Isto acontece na elaboração dos treinamentos. Quando só tem pessoas com um drive mais técnico é muito comum o processo ficar de fora para dentro, superficial e teórico. Tipo mostrar números e indicadores do contexto atual, identificar os comportamentos indesejáveis e desejáveis, no máximo contar um caso específico, mostrar as novas diretrizes e no final apresentar o que deve ser feito a partir de agora. 

            Códigos de conduta, regras, diretrizes, canais de denúncia e treinamentos técnicos são importantes e muitas vezes necessários, mas sem a conscientização, a educação e a formação, sinto dizer que não funciona. A informação por si só não basta para mudar a nossa mente. Infelizmente este é o maior foco e investimento da maioria das empresas. 

 

A insistência do padrão antigo 

 

            Já vimos o quanto é desafiante sair do conforto do conhecido para fazer diferente. Um grande exemplo é insistir informar e esperar um novo comportamento.         Muitos esquecem que a maioria já sabe o que pode ou o que não pode, assim como o que é esperado ou indesejado. 

            O que acontece é que as pessoas que sabem o novo não conseguem fazer diferente. Ou por não terem consciência ou por não terem mudado suas próprias crenças e valores ou por estarem condicionados ou viciados no seu próprio jeito de ser.

            Existe uma complexidade nos seres humanos que os mais racionais não conseguem entender. Como são muito pragmáticos e funcionam focados em objetividade, todo as questões subjetivas e emocionais não são vistas conforme sua relevância.

            Acredito que hoje todos já devem saber que fumar faz mal à saúde. Existe prevenção mais informativa de que fumar faz mal à saúde? O governo fez um monte de ações: proibiu propagandas, restringiu locais específicos para os fumantes e, principalmente, exigiu informação massiva sobre os impactos negativos do fumo.          Adiantou proibir, restringir e informar? Uma pesquisa revelou que os adultos até diminuíram o consumo, mas os jovens aumentaram o consumo. Percebe a subjetividade? A diminuição nem foi pela informação, mas pela experiência com doenças ou pela escolha de ter uma vida mais saudável.

            Quantas empresas ou pessoas vão além da informação, restrição e proibição e investem de forma mais profunda no autoconhecimento e transformação pessoal e autoresponsabilidade pela própria escolha? Quantas horas ou investimentos são dirigidos à mudança profunda dos comportamentos?

            Este é um caminho novo, ousado e profundo. Exige profissionais especializados, um processo mais profundo e continuidade. Os mais pragmáticos podem interpretar como mais custos e mais tempo. Entretanto, muitos não percebem que é exatamente ao contrário. Quanto investimento é perdido e quanto tempo é desperdiçado pela repetição de fórmulas antigas e ineficazes? Você já calculou os custos dos treinamentos ineficazes?

 

            A saída é desenvolvimento

 

            A mentalidade disruptiva e as novas pesquisas sobre a neurociência e mindfulness ajudam a desconstruir crenças que somente treinamento resolve. Não é de fora para dentro, mas de dentro para fora e isso se chama: desenvolvimento. Sem autoconhecimento, autoconsciência e vontade de mudar, novos comportamentos não se sustentam.           

            Uma coisa é certa. Não temos certeza de nada, apenas que o comportamento é a parte mais superficial do processo de mudança e muitas vezes apenas o resultado de uma mudança que acontece dentro e muitas vezes demora para você ver. 

 

 

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