A conta do meio ambiente

A conta do meio ambiente

Não foi por falta de aviso. Há mais de três décadas, vários cientistas e entidades internacionais alertaram para os riscos que o aquecimento do planeta traria. No caso brasileiro, o principal aviso aconteceu na ECO-92, como ficou conhecida a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro, em junho 1992. Também chamada de Cúpula da Terra, a convenção reuniu chefes de Estado e representantes de 179 países, organismos internacionais, milhares de organizações não governamentais e contou também com a participação direta da população. Na época, o consenso geral era de que a ECO-92 “representou um marco nas discussões sobre a preservação ambiental e o desenvolvimento sustentável”. Passados mais de 30 anos do encontro, embora tenha ocorrido um avanço na conscientização, do ponto de vista da adoção de medidas concretas, pouco se avançou. A grande maioria dos carros ainda circula com combustíveis fósseis, usinas de carvão continuam operando e o uso de energias não poluentes ainda está longe do ideal. 


Se a adoção de medidas para diminuir a temperatura da Terra andou a passos lentos, as consequências dos efeitos climáticos surgiram de forma rápida, avassaladora e muito destrutiva. Até o problema ambiental apresenta contradições. A preservação do clima possui duas faces bem distintas; de um lado, está sob o poder de decisão das grandes potências econômicas e de órgãos internacionais multilaterais. Por outro, envolve e alcança cada indivíduo nos lugares mais distantes do mundo. Por ora, apesar da vida em outro planeta, acalentada pelo megaempresário Elon Musk, só há um planeta Terra disponível. Ainda não existe um plano B. A contradição da questão ambiental é que embora ela seja uma responsabilidade global e coletiva, possui pesos diferentes. Se os Estados Unidos, a China e a União Europeia, os maiores poluidores do mundo, não mudarem o modelo de produção, a conscientização mundial pouco adiantará para evitar essa rota destrutiva para a qual a humanidade se encaminha. O problema se agrava à medida que quem tem o poder de decisão pouco sofre as consequências dos desastres ambientais. A exemplo do que ocorre com outros problemas mundiais, como a concentração de renda e falta de liberdade de expressão, a população mais carente, com menor poder aquisitivo é a que mais sofre as consequências. São elas que vivem na margem dos rios e dos oceanos e que estão mais sujeitas às enchentes e às inundações. É justamente a população mais pobre que habita as regiões mais quentes e inóspitas do planeta e que hora perde o resultado de seu trabalho pela falta ou pelo excesso de chuva ou Sol. 


A TV, com a força das imagens, é uma mídia onde essas mudanças aparecem de forma bem nítida e que dá uma dimensão real do que está ocorrendo. A capital São Paulo, outrora cantada como a “Terra da Garoa”, na música de Benito Di Paula, hoje faz distribuição de água para amenizar o calor dos moradores. Na região de Ribeirão Preto, num espaço de três anos, a Rodovia Anhanguera já foi interditada por dois motivos bem distintos: o excesso de chuva e o fogo que cercou trechos da estrada. Outras áreas do país enfrentam ao mesmo tempo variações climáticas contrastantes e destruidoras. Enquanto várias cidades da região Sul sucumbem diante das enchentes, biomas preciosos do Pantanal são queimados pelo fogo. As ondas de calor colocam em risco ações humanas que até então eram fontes de lazer. Causou grande repercussão na opinião pública a morte de uma jovem que esperava pelo show da cantora Taylor Swift. Máquina sensível, o corpo humano não aguenta grandes variações da temperatura interna. Aos 42º, as proteínas começam a cozinhar e os sinais de desconforto aparecem. Nessa temperatura, o metabolismo e o funcionamento dos órgãos ficam comprometidos com riscos à vida humana. Além dos sintomas físicos, como a transpiração excessiva e a perda de líquidos, ainda surgem os efeitos psicológicos como o cansaço, a irritação e a falta de ânimo. A baixa umidade do ar provoca dificuldades respiratórias e aumenta o risco de contrair doenças.  Alguns moradores de Ribeirão Preto sentem os efeitos desse caos há alguns dias. Com o calor intenso, veio a falta de água que se espalhou pela cidade. A sobrecarga dos aparelhos de refrigeração na rede de energia já provocou várias interrupções no abastecimento. Não é preciso ser um expert em clima para constatar que a humanidade enveredou por um caminho perigoso que trará consequências danosas, principalmente à população mais carente e indefesa. 

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